Dos escritos de Agostinho

DEUS É A VIDA DE TUA ALMA

“Tua alma morre perdendo a sua vida. Tua alma é a vida do teu corpo, e Deus é a vida de tua alma. Do mesmo modo que o corpo morre quando perde a sua alma, que é sua vida, assim a alma morre quando perde a Deus, que é sua vida. Certamente, a alma é imortal, e de tal modo é imortal, que vive mesmo estando morta. Aquilo que disse o Apóstolo da viúva que vivia em deleites pode-se dizer também da alma que tem perdido o seu Deus: que vivendo está morta”.

(Com. Ev. de João, 47, 8)

20 lições para conhecer a Santo Agostinho

 

18.- Finalidade, espiritualidade e apostolado

da ORDEM AGOSTINIANA

1.- FIM E ESPÍRITO DA ORDEM

Que é o que pretendem aqueles que decidiram ser Agostinianos?

A resposta a oferece Santo Agostinho nas primeiras linhas de sua Regra: “Para isto vos haveis reunido aqueles que vivem no mosteiro: para viver unânimes e tenhais uma só alma e um só coração em marcha para Deus”. Deus é, pois, o termo último e definitivo, a meta e ao mesmo tempo o prêmio ao quem tem que caminhar quem aspire a viver como Agostinho. Deus será o objeto da uma conquista pessoal e comunitária.

Agostinho sabia que muitos se tinham santificado no deserto, que tinham alcançado a Deus na solidão. Ele, ao contrário, não aceita esse caminho. Quer chegar a Deus em comum, com seus amigos, todos junto. O caminho elegido passará pelo amor e a concórdia, da unidade de corações e espíritos. Não podemos esquecer que para ele tal concórdia e unidade não se baseia somente no humano, senão que tem seu autêntico ponto de apoio em Deus.

Falamos de chegar a Deus que está expresso naquela famosa frase agostiniana: “Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em Ti”. Isto supõe que na Ordem tem que existir sempre o elemento contemplativo, porque a Deus encontra-se-Lhe, sobre tudo, na solidão do coração, não no meio do barulho do mundo. Assim o cultivo da interioridade une o ideal agostiniano com os ideais dos eremitas de cuja união nasceu a Ordem. Não podemos esquecer, não obstante, que é característica da contemplação agostiniana a comunicação aos outros: fazer aos irmãos partícipes das graças e dons que o Senhor concede.

Intimamente unido com este aspecto da contemplação está o estudo, especialmente das Sagradas Escrituras. É nela onde fala Deus de forma especial e onde encontra-se-Lhe certamente. Mas a vocação ao estudo não vem aos Agostinianos pela ânsia de contemplação, mas também da necessidade do apostolado.

A contemplação, com efeito, não era fim único nem no pensamento de Santo Agostinho, nem na vida da Ordem aos começos, que marcou o seu ser para o futuro. Respeito a Ordem sabemos que o Papa Inocêncio IV a constituiu Ordem Apostólica. É sabido que para Santo Agostinho a contemplação é somente como uma cara da moeda cujo verso é a ação ou apostolado. Recordemos estas palavras da Cidade de Deus: “O amor à verdade requer uma santa tranquilidade; a necessidade da caridade, uma justa ação. Se ninguém põe sobre nossas costas o peso do apostolado, devemos ocupar-nos da busca e conquista da verdade; se, ao contrário, impõe-se-nos, deve ser aceita pelo dever do amor. Mas nem sequer, então, deve-se abandonar o gosto pela verdade para não nos encontrar privados de tal doçura e oprimidos por aquela carga”. Quer dizer, o desejo da contemplação deve existir sempre no ânimo, mas não deve ser colocado antes às obrigações da caridade. A prática do apostolado é uma necessidade iniludível.

Mas a Ordem não tem nenhum apostolado que seja característico: nem o paroquial, nem o docente, nem os estudos, nem as missões, etc. Nenhum excluindo os outros, mas está aberta a todos. Sua única norma é a necessidade da Igreja, mãe num duplo sentido: mãe como para todos os cristãos, e mãe por ser a “fundadora”. As necessidades do momento da Igreja determinarão o campo do apostolado no qual a Ordem trabalhe. A mesma coisa enquanto ao espaço físico: nalgum lugar exigirá, por exemplo, presença educativa, noutro missionária, noutro paroquial, etc. Missão da Ordem é estar sempre preparada e disposta a qualquer serviço que lhe peçam.

Se a contemplação está condicionada pelo apostolado, a fraternidade não está condicionada por nada. Ou seja, ainda no trabalho deve mostrar-se o espírito de fraternidade agostiniana, espírito que tem sua maior expressão na vida de comunidade, entendida mais como unidade de corações que como presença baixo um mesmo teto, ainda que disto somente pode-se renunciar por uma causa grave. O apostolado, como a contemplação deve ser comunitário e para a comunidade, não só a comunidade agostiniana, mas também a comunidade eclesial.

 

2.- MEIOS PARA CONSEGUI-LO

Nasce agora outra pergunta: Quais são os meios para consegui-lo?

Encontramos a resposta, de novo, na Regra e os outros escritos que nos deixou Santo Agostinho e que podemos resumir nos seguintes pontos:

 

A) Pobreza - Comunidade de bens

Meio fundamental para conseguir essa união é ter tudo em comum. Assim praticou-o Santo Agostinho, assim viveu-o antes a primeira comunidade cristã de Jerusalém, tal como o narra São Lucas nos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos que tinham acreditado tinham um coração e uma alma só, e nenhum tinha por própria coisa alguma, ao contrário, tinham tudo em comum... Não existia entre eles indigentes, pois, quantos eram donos de fazendas ou casas vendiam-nas e levavam o preço do vendido e o entregavam aos pés dos Apóstolos e a cada um repartia-se-lhe segundo sua necessidade”. A comunidade de Jerusalém mostrou-se a Agostinho como o modelo preciso para sua comunidade.

Para Agostinho será coluna insubstituível da vida religiosa ter tudo em comum e dar a cada um segundo sua necessidade, O primeiro como manifestação da unidade e o segundo para evitar que a preocupação pelas necessidades materiais impeça ao religioso dedicar-se em plenitude ao serviço de Deus das múltiplas formas que se pressentem ou a Igreja precise.

Diante da pobreza Agostinho se mostra exigente. Antes de abraçar este gênero de vida cada qual é dono dos seus bens ou riquezas. Quando decidiu entrar na comunidade pode dispor deles segundo seus desejos: doa-los aos familiares, dá-los aos pobres ou à mesma comunidade. Mas uma vez dentro, viverá como todos; tudo será de todos; todos receberão do comum. Aquele que fique com alguma coisa, ainda que antes tivesse sido seu, será condenado como ladrão.

O princípio de que a cada um seja dado conforme sua necessidade estende-se a todos os campos: alimentos, vestidos, livros, etc. A caridade saberá condescender com os mais débeis ou com aqueles que antigos costumes fizeram mais delicados. A diferença de trato surgida da necessidade não será motivo de escândalo de ninguém nem de inveja para ninguém, sabendo que “é melhor necessitar pouco do que ter muito”.

Como consequência, os irmãos que se encontrem tomando conta dos bens da comunidade não devem demorar em dar aos outros o que precisem e tem que fazê-lo sem murmuração.

Comum tem que ser tudo. Até o trabalho pessoal: “Ninguém faça nada para si mesmo, mas todas vossas obras sejam feitas em comum e com tanto maior ânimo e entusiasmo como si cada qual trabalhasse para se mesmo”. A maior prova de caridade consiste em saber colocar antes as coisas comuns à próprias. Daqui toma-se também a norma para medir o progresso de cada qual no interior da comunidade: “Sabereis que tanto mais estais adiantados na virtude, quanto mais cuideis as coisas comuns melhor que as próprias”.

De todo o dito resulta que a comunidade de bens está em função da comunidade de vida ou de uma vida em comunhão que é o que deseja Agostinho.

 

B) Castidade perfeita

Quem entra na comunidade agostiniana tem que estar disposto e capacitado para levar uma vida de castidade perfeita. Não porque o matrimônio seja algo mau, mas porque a castidade e melhor. Em consequência, o trato com as pessoas de outro sexo tem que ser normal. Santo Agostinho sabe manter o equilíbrio. Não se proíbe vê-las, mas deseja-las e ser desejado por elas. O mal, quando existe, se encontra somente na pessoa que olha com olhos impuros. Por isso Agostinho não se contenta com uma castidade exterior, corporal; esta sem a castidade do coração não serve para nada. “Quando o interior de uma pessoa é impuro desaparece a castidade ainda que os corpos permaneçam livres de toda violação imunda”.

Apoio para a castidade é a consciência da presença de Deus que penetra até o mais profundo de nossos corações. “Ainda que alguém possa escapar à atenção ou vigilância dos homens, poderá ocultar-se a Deus que tudo vê?”.

A comunidade, por sua vez, tem que ser a guarda da castidade de cada irmão que ali mora. “Guardai mutuamente vossa pureza”. Cada irmão tem que ser o guarda da castidade do irmão; mas ao final ela é um dom de Deus que só concede aos que tem dado sua colaboração. “Deus que habita em vós vos guardará deste modo por meio de vós mesmos”.

 

C) Obediência

Como todo grupo humano também a comunidade agostiniana necessita uma cabeça, um superior. Quem desejar formar parte dela, tem que estar disposto a obedecer. Quem ofende ao superior ofende a Deus. A atitude de quem se aproxime dele tem que ser igual que a do filho com seu pai: amor e respeito e, também, compaixão, porque “quanto se está em lugar mais elevado, tanto está em maior perigo”.

Ao mesmo tempo o superior tem que sentir-se feliz não “por dominar com poder mais por servir com caridade”. A todos tem que dar exemplo de boas obras; tem que corrigir os inquietos, consolar a quem precisar, receber aos doentes, etc. “Ainda que uma e outra coisa sejam necessárias, busque mais ser amado que temido, sabendo que tem que dar conta de todos diante de Deus”.

 

D) O trato com Deus e com os irmãos

Santo Agostinho sabia que cada homem tem sua medida e que não é justo introduzir a todos na mesma forma. O equilíbrio, a compreensão e o respeito pela singularidade de cada pessoa foram sempre suas características. As vemos aparecer quando fala de jejuns e penitências: “Dominai vossa carne com jejuns e privações de comida e bebida em quanto vossa saúde o permita”.

Com tudo, a força interior para ser fiel ao próprio propósito não tem que achá-la o religioso tanto nas penitências e jejuns, quanto na oração. O tempo dedicado a esta é algo fixo na comunidade agostiniana: “Orai nas horas e tempos marcados”. Mas a oração não tem que limitar-se à feita em comum. Cada qual tem que orar quando o deseje. Para isso, que ninguém atrapalhe. A norma diretiva será sempre: “que sinta o coração o que diz a boca”. Não deve ter lugar para a rotina. As orações “quanto mais frequentemente as tenhais, tanto mais santamente deveis fazei-las”.

Do trato continuo com Deus procederá o justo comportamento com o irmão que faça possível a convivência em quanto conquista de Deus. Irmão no que se tem que acreditar quando se queixa de alguma doença, ou pede algo por acha-lo necessário; ao que é preciso corrigir, ainda que doa; ao que tem que perdoar se nos tem ofendido e temos que pedir perdão se fomos nós os que ofendemos. “É melhor quem embravece com facilidade e logo se apressa a pedir perdão que aquele que demora em embravecer, mas dificilmente se decide a pedir perdão. Quem nunca pede perdão ou não o pede de coração, sem motivo está dentro da comunidade, ainda que dela não seja expulso”.

 

3.- DEVOÇÕES AGOSTINIANAS

Como expressão externa de unidade e para cultivá-la, todos os agostinianos tinham já antigamente que assistir à Missa da comunidade. O Ofício Divino rezava-se também em comum. A Ordem nunca teve liturgia própria como tiveram outras ordens, o qual não significa que já desde os inícios da fundação tivesse uma parte própria para celebrar devotamente aos filhos que tinham sido ascendidos à honra dos altares.

A devoção mariana tem sido outra das constantes. Prova disso são as diversas devoções da Virgem que ao longo dos séculos foram cultivadas especialmente pelos agostinianos. Lembremos as seguintes:

Mãe do Bom Conselho.

A devoção de Nossa Senhora do Bom Conselho começou a adquirir culto especial entre os fiéis, ligada desde suas origens à Ordem Agostiniana, a partir do século XV. Está unida a Genazzano, cidade distante 50 km de Roma. Consta que a partir de 1380 os Agostinianos estavam presentes em Genazzano na Paróquia de Santa Maria. Com o decorrer dos anos, a Igreja foi ficando pequena demais e ameaçava de ruína.

Nessas circunstâncias uma agostiniana secular de nome Petruccia, mulher de grandes compromissos de fé, devota da Virgem decidiu oferecer um lugar amplo no sítio de sua casa. Como o projeto era ambicioso e superava os fundos econômicos disponíveis a oferta da devota não foi levada em consideração. Mas ela não cedeu às pressões e deu começo ao projeto com seus próprios médios.

Avançada a obra, apareceu de repente na parede uma imagem da Virgem Maria; o fato comoveu toda Itália e surgiu imediatamente o "milagre", a eclosão de fervor em torno da devoção de Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho. No 25 de abril de 1467. Com motivo deste achado foram tantos os donativos que, ainda em vida da venerável Petruccia, se terminou a igreja, e ainda se edificou um belo convento encostado no santuário.

O culto à Virgem continuou se expandindo até obter as "bênçãos canônicas" no ano 1727, data na qual o Papa Benedito XIII concedeu missa e ofícios próprios, fixando a data em 25 de abril.

Na atualidade, a liturgia agostiniana celebra esta festividade mariana no dia 26 de abril. A mudança de data se efetuou aos 17 de fevereiro de 1781.

Nossa Senhora de Graça

A devoção de Nossa Senhora de Graça lembra a saudação do Arcanjo são Gabriel à Maria, na Anunciação quando falou para Ela: "Deus te salve, Maria, cheia de graça".

O culto a Nossa Senhora de Graça florescia nos ambientes agostinianos desde tempos imemoriais; mas desconhecemos onde e como surgiu. Tal vez porque as ordens mendicantes, na sua fundação, aproveitaram devoções antigas e as acomodaram ao seu peculiar modo de pensar.

A primeira notícia historicamente documentada é do ano 1401 e refere-se a uma confraria organizada nos conventos de Santo Agostinho e Nossa Senhora de Graça em Valência (Espanha) e Lisboa (Portugal).

Pouco a pouco a devoção foi cobrando força em nossas expressões comunitárias e litúrgicas adquirindo grande difusão a partir do século XVI; pelo fato de se começarem a construir conventos sob este título e também o relato de uma lenda que posteriormente espalhou-se, segundo a qual a Virgem de Graça haveria impedido que o Papa tirasse da Ordem a batina branca que então se vestia em sua honra.

A partir do século XVII a devoção é considerada como própria da Ordem. A liturgia específica lhe foi concedida em 1807 pelo Papa Pio VII. Celebra-se no dia 25 de março, Solenidade da Anunciação.

Nossa Senhora, Mãe da Consolação

Os Agostinianos celebram a festa de Nossa Senhora da Consolação em 4 de setembro.

A devoção é antiga. Conta a lenda que Santa Mônica derramava muitas lágrimas diante de Deus em favor de Agostinho, desviado da fé que ela lhe infundira em sua infância; a Virgem a haveria consolado em sua oração anunciando a volta do filho à Igreja Católica; e exortou-a a se vestir de preto e cingir-se com uma correia. Segundo os dados históricos, em sua origem, nenhum laço especial relaciona esta devoção com a Ordem Agostiniana.

Consta que em meados do século XV os agostinianos veneravam na Itália uma imagem de Maria, invocada sob este nome. Uma vez entronizada no coração da Ordem, em poucos anos tomaram-na como titular vários conventos de nova fundação, assim como de confrarias de leigos agostinianos.

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A Virgem Maria é a Padroeira da Ordem, e São José o Padroeiro desde o século XVIII.

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