Dos escritos de Agostinho

DEUS É A VIDA DE TUA ALMA

“Tua alma morre perdendo a sua vida. Tua alma é a vida do teu corpo, e Deus é a vida de tua alma. Do mesmo modo que o corpo morre quando perde a sua alma, que é sua vida, assim a alma morre quando perde a Deus, que é sua vida. Certamente, a alma é imortal, e de tal modo é imortal, que vive mesmo estando morta. Aquilo que disse o Apóstolo da viúva que vivia em deleites pode-se dizer também da alma que tem perdido o seu Deus: que vivendo está morta”.

(Com. Ev. de João, 47, 8)

20 lições para conhecer a Santo Agostinho

 

19.- A ORDEM AGOSTINIANA EM AMÉRICA LATINA E NO BRASIL (OALA, FABRA)

Um processo de renovação

 

0.- INTRODUÇÃO

Depois de cinco séculos de presença evangelizadora em América a Ordem Agostiniana está questionando-se a sua presença nestas sofridas terras.

Esta revisão de vida forma parte de um processo maior de adaptação aos tempos novos, à Igreja nova e ao Terceiro Milênio que vai se aproximando rapidamente.

Não é simplesmente uma adaptação superficial, provocada pela progressiva diminuição dos seus membros; responde a uma inquietação muito mais profunda como é a de atualizar a presença agostiniana adaptada aos povos de A.L. Até agora esta presença estava na pratica reduzida a uma vivência de religiosos estrangeiros, principalmente europeus (espanhóis e italianos). A partir de agora se trata de inculturar o espírito agostiniano no meio de esta realidade tão distante da europeia seguindo os apelos da Igreja de se comprometer com os pobres e com os jovens.

Este processo nasceu de uma sugestão do Capítulo Geral Ordinário de 1989 para realizar uma reflexão acerca de A.L., inquietude compartilhada pela OALA e reforçada no Capítulo Geral Intermédio de São Paulo 1992.

Dentro deste processo renovador cabe destacar os seguintes momentos:

 

1.- O ESPÍRITO DE CONOCOTO

No mês de setembro de 1993 teve lugar em Conocoto (Equador) um encontro baseado num inquérito respondido acerca da realidade da Ordem. Foi um encontro significativo e iniciante do processo de revitalização da Ordem em A.L.

Provocou uma grande expectativa em todos os irmãos da Ordem e o impacto foi tal que o Conselho Geral da Ordem assumiu o plano resultante no que diz respeito à objetivos, linhas de ação e meios apresentados como um projeto de toda a Ordem para A.L. Assim o manifesta o mesmo Padre Geral:

Todas as comunidades agostinianas de A.L., a través de uma experiência significativa de diálogo, reconciliação e comunhão, sintonizam com a Nova Evangelização e com as vivências e aspirações da Igreja em A.L., e estão preparadas para um novo projeto de vida m seguimento de Jesus Cristo, baseado na palavra de Deus, o carisma próprio da Ordem e o clamor dos pobres” (Discurso do Padre Geral, 11.11.93)

Participaram 61 irmãos representantes das diversas circunscrições de A.L., os Superiores Maiores, os Provinciais com jurisdição no continente e, como a maioria dos irmãos tem nascido fora de A.L., se convidou a representantes nativos.

O encontro de Conocoto marca um momento histórico na história da Ordem em A.L., já que é a primeira vez que se reflete acerca de nossa presença no continente a nível geral” (Crônica do encontro. Introdução).

O Objetivo orientador do trabalho é:

Refletir sobre a realidade da Ordem em A.L., à luz de santo Domingo como início de um processo de revitalização da Ordem, ao serviço da Nova Evangelização”.

Entre as reflexões feitas no encontro surgem algumas luzes: o trabalho vocacional, a formação, a presença consistente, o interesse da Ordem pela opção preferencial pelos pobres e a promoção humana, a inserção local e o esforço por trabalhar na pastoral latino-americana, a colaboração entre circunscrições, a colaboração com os laicos como novo caminho de evangelização na Igreja local, a valorização da vida comunitária como manifestação do carisma agostiniano, a consciência crítica nascida da leitura da Bíblia, o interesse da Cúria pela revitalização da presença agostiniana em A.L., o ressurgimento da pastoral missional, a crescente dedicação e preocupação pela pastoral juvenil, o reconhecimento do valor dos povos indígenas, e o maior interesse na formação permanente.

Também surgem algumas sombras: a falta de raízes, poucos agostinianos, pouco latino-americanos, não sabemos comunicar-nos, poucas vocações, dificuldades de assumir a opção preferencial pelos pobres, marginalização dos povos originários ao entender-lhes dentro da globalidade.

No fim do encontro os jovens latino-americanos fizeram este manifesto:

Cremos em Deus Pai e Mãe da Vida que se revela em nossos povos.

Cremos em Jesus, nosso irmão, que se encarna nos desejos de libertação e ressurreição de nossos povos.

Cremos no Espírito Santo, que anima e guia a busca da uma humanidade renovada e livre.

Cremos no homem e na mulher que lutam por recuperar sua dignidade e de sobreviver em uma situação de fome, miséria e morte.

Cremos na Igreja, encarnada na vida e no mundo de nosso povo pobre e crente.

Cremos no ideal comunitário de Agostinho de Hipona, nosso inspirador.

Cremos no caminho que nossa Ordem tem percorrido ao longo da história com seus acertos e erros, com o ânimo de ser fieis à vontade de Deus.

Cremos na tentativa de revitalizar a Ordem em A.L..

Cremos na participação ativa e transformadora de nossas comunidades na sociedade, à imagem da Trindade dialogante, recíproca, fraterna e solidária.

Cremos na formação inculturada que resgate os valores das culturas marginalizadas e acentue o espírito comunitário como valor primordial de nossa espiritualidade.

Cremos na opção preferencial pelos pobres que, como Ordem, temos assumido no Capítulo Geral Intermédio de México.

Cremos na urgência de destacar a promoção humana de acordo com a realidade de nosso continente, acima de manter tradições beneméritas, seguindo o espírito do Capítulo Geral Intermédio de Dublin.

Cremos em uma Sociedade onde prevaleçam os direitos humanos, a dignidade das pessoas e a defesa aberta das grandes maiorias débeis e marginalizadas.

 

2.- PROJETO CORAÇÃO NOVO

Dando continuidade a este processo de renovação da Ordem Agostiniana em A.L., em Bogotá no ano 1995, mudou-se a denominação, por outra mais agostiniana e conveniente, e passou a se chamar “Projeto Novo Coração”. A equipe de animadores responsável direto do projeto se reuniu para preparar o processo inteiro que vai contar com as seguintes etapas:

 

FASE PRÉVIA: Projeto de espiritualidade agostiniana (setembro de 1993 - setembro de 1996).

Se trata da convocação do maior número possível de irmãos, para sensibilizar às comunidades para este projeto de renovação. É o começo de tudo.

O Objetivo é: Favorecer uma experiência significativa de diálogo, reconciliação e fraternidade, que nos sensibilize à necessidade de revitalizar a Ordem em A.L., em sintonia com a nova evangelização

 

PRIMEIRA ETAPA: Re-descoberta comunitária da vocação-missão da Ordem em A. L. (setembro de 1996 - setembro de 1999).

É preciso encontrar uma maneira comum, um consenso, sobre o modo de viver a vida religiosa agostiniana, pois até agora cada um tem uma visão particular disso.

Corresponde à tarefa do VER. Desenvolver-se-á em três fases.

Fase A: Analise da realidade. O objetivo é: Reler, a partir da fé, os sinais dos tempos em A.L.

Fase B: Profecia (discernimento). O objetivo é: Re-descobrir a especificidade e atualidade do carisma agostiniano em A.L..

Fase C: Conversão consequente. O Objetivo é: elaborar um modelo ideal da vida agostiniana em A.L.

 

SEGUNDA ETAPA: Em direção à uma renovada forma de presença da Ordem na Igreja na A.L. (setembro de 1999 - setembro 2002)

Uma vez determinado dever ser agostiniano, revisar todas as nossas atividades e presenças e decidir com qual devemos continuar e com qual não.

Corresponde à tarefa de JULGAR. Também tem três fases.

FASE A, que tem como objetivo: Aprofundar o projeto ideal da vida agostiniana em A.L..

FASE B, que tem como objetivo: Revisar a vida e ação agostiniana em A.L. à luz do projeto ideal.

FASE C, que tem como objetivo: Definir o novo estilo de presença agostiniana em A.L.

 

TERCEIRA ETAPA: Presença e animação profética da Ordem na Igreja e na sociedade de A.L. (setembro 2002 - setembro 2005)

O projeto do consenso da Ordem deve ser operativo para cada província e circunscrição, de cada comunidade de cada pessoa.

Corresponde à tarefa de AGIR. Também tem três fases.

FASE A, cujo objetivo é: Adequar e aplicar o projeto operativo à cada comunidade e cada circunscrição.

FASE B, cujo objetivo é: Avaliar o projeto operativo à luz dos novos desafios.

OBJETIVO ÚLTIMO E FINALIDADE: Promover na Igreja, dentro da sociedade, um dinamismo de conversão e renovação permanentes pelo testemunho de santidade comunitária da Ordem em A. L.

Este processo é um processo aberto, não é um processo fechado, pois cada pessoa, cada circunscrição está aberta ao espírito e aos seus novos chamados desde a História e desde a Igreja.

Algumas datas importantes deste projeto:

Ano 1994: Exercícios espirituais.

Ano 1995: Curso de animadores preparando os exercícios espirituais e guias para os retiros das comunidades. O tema será Identidade e renovação da Vida Religiosa Agostiniana.

Ano 1996: Evento Casiciaco. Nele se trata de reviver experiência significativa do diálogo, reconciliação e comunhão, com a finalidade de pôr em contato com as raízes da espiritualidade agostiniana e com nossa identidade, todo o qual é simbolizado pelo lugar na periferia de Milão.

Ano 1996: Encontro Hipona em México com superiores maiores e representantes nativos de cada circunscrição.

O Projeto “Hipona, Coração Novo” é um projeto comum, com linhas comuns e metas aceitas por todos. Dele tomam parte todos os irmãos do continente, para construir desde as bases a visão da vida e serviço apostólicos que acreditam respondam o que Deus espera dos Agostinianos.

Hipona é o começo dum processo. Significa a mudança de vida, a conversão, pois em Hipona Agostinho mudou de vida ao ser escolhido como pastor.

O acontecimento foi tão importante que, como em Conocoto, participaram todos os membros do Conselho Geral, os superiores ou delegados das Circunscrições de A. L. e das províncias implicadas e também representantes dos religiosos nativos.

 

A OALA

(Organização dos Agostinianos de América Latina)

A OALA é uma organização formada por todas as circunscrições da Ordem existentes na A. L.

Nasceu depois do Concílio e do Capítulo Geral de Vilanova em 1968, onde se adaptaram as Constituições aos tempos novos. Foi fundada no ano 1969 em Quito, e ao longo de todos estes anos tem ido adaptando-se e reformando-se até chegar à estrutura atual.

Podemos dizer que a OALA é mais um elemento da Ordem para animar e renovar a vida religiosa agostiniana em América, que tem umas características especiais. Essa dimensão de animação e renovação pode descobrir-se a partir das várias finalidades que aparecem nos seus estatutos: Fomentar e consolidar nas comunidades e nos religiosos de A.L a vida agostiniana e apostólica; promover o desenvolvimento da Ordem por meio da unidade, ajuda mútua e serviços comuns; criar e promover a consciência crítica e profética nas comunidades e seus membros à luz dos documentos da Igreja e da Ordem; coordenar trabalhos comuns em benefício da Igreja e da Ordem; incentivar as boas relações, intercâmbio de experiências e conhecimento mútuo entre todos os irmãos que trabalham no Continente Americano.

Para realizar melhor essas funções todas as circunscrições tem um delegado que participa da direção e faz de elo de ligação entre a OALA e seus irmãos. É o encarregado de animar e levar à prática as decisões de OALA.

Para funcionar melhor, devido a que as distâncias em A. L. são tão grandes, foi dividida em três regiões (Sul, centro e Norte), que facilitam a mobilidade dos seus representantes e a possibilidade de realizar encontros e reuniões. Também tem diversas áreas para ajudar nesse trabalho de animação e renovação. Estas áreas são: Formação e vocações, pastoral urbana e missionária, pastoral educativa, e Justiça e paz.

Cada coordenador e cada representante das regiões tem como responsabilidade a animação da vida agostiniana na sua área respectiva, para o qual deverá realizar encontros o enviar materiais ou qualquer tipo de iniciativa que ajude a caminhar aos Agostinianos na A.L.

ORAÇÃO PELA RENOVAÇÃO DA ORDEM AGOSTINIANA EM A.L.

Deus, Criador nosso, que nos amas:

Ajuda-nos a experimentar teu amor na comunidade

e a dar testemunho a todos do teu amor.

Jesus, Senhor e irmão nosso,

que viveste entre os pobres,

ajuda-nos a estar atentos à realidade onde vivemos,

a inculturar-nos e optar pelos mais necessitados e excluídos.

Espírito Consolador, anima nossas comunidades

e ajuda-nos no processo de diálogo, reconciliação e comunhão,

para poder responder com fidelidade ao que nos pede a Igreja de nosso Continente:

Uma Nova Evangelização a partir de tua Palavra

e a partir de nossa espiritualidade agostiniana.

Santa Maria, Mãe do Bom Conselho,

Senhora da América Latina,

intercede por nós. Amém

 

A FABRA (FEDERAÇÃO AGOSTINIANA BRASILEIRA)

A FABRA, ou Federação Agostiniana Brasileira, congrega todos os membros da Grande Família Agostiniana no Brasil. Fazem parte dessa organização os diversos grupos, Ordens e Congregações de inspiração agostiniana presentes no Brasil.

Os grupos que formam parte da FABRA são, atualmente, os seguintes: da Ordem de Santo Agostinho (OSA): Vicariato do Brasil, Vicariato da Consolação, Vicariato de Castela e Região de Malta; da Ordem dos Agostinianos Recoletos (OAR): Província de Santa Rita de Cássia, Vicariato Santo Tomás de Vilanova e Missão da Província S. Nicolau de Tolentino; da Ordem dos Agostinianos Descalços (OAD): Delegação do Brasil; Congregação dos Agostinianos da Assunção (AA): Vice-Província do Brasil e Região de Rio de Janeiro; Congregação das Agostinianas Missionárias (AM): Província de Cristo Rei; Congregação Missionárias Agostinianas Recoletas (MAR): Província de Santa Rita; Ordem das Cônegas Regulares do Santo Sepulcro (ORSS): Priorado de Campinas; Congregação das Irmãs Oblatas da Assunção (OA): Vice-Província do Brasil e Ordem dos Cônegos Regulares Premonstratenses (Opraem): Priorado de Jaú e Priorado de Montes Claros e Irmãs Negras: delegação do Brasil.

Todos esses grupos estão espalhados por quase todo o território nacional e trabalham nos mais diferentes campos de apostolado: paróquias colégios, missões, obras de assistência e promoção humana, social e religiosa; imprensa; catequese especializada; radiodifusão; retiros; universidades; direitos humanos, justiça e paz.

A ideia de reunir os membros dos vários grupos que integram a Grande Família Agostiniana do Brasil aconteceu pela primeira vez em 1975, de 14 a 17 de janeiro, no chamado I Encontro Nacional Agostiniano, em Itaicí - SP. Naquele ano celebravam-se os 75 anos da chegada dos Recoletos e dos Agostinianos ao Brasil. O tema central do encontro foi: “A reflexão vivencial sobre a vida e a doutrina de Santo Agostinho”.

Essa feliz iniciativa produziu um inquieto desejo de novos encontros. Assim, o II Encontro, em 1981, teve como tema: “Oração, contemplação e vida comunitária em S. Agostinho”. Em 1984, o III Encontro, já chamado Congresso: “Eclesiologia no pensamento do Hiponense”. O IV Congresso, de 1987 era celebrado nas comemorações do XVI Centenário da Conversão de Santo Agostinho.

Esse congresso deu um passo a mais em relação aos anteriores, com a proposta da criação da FEDERAÇÃO AGOSTINIANA BRASILEIRA - FABRA, que se efetivou na reunião fundacional de 25 de fevereiro de 1988, na Residência da então Vice-Província do Santíssimo Nome de Jesus, no Brasil, em São Paulo, na presença de Superiores(as) Maiores de treze circunscrições agostinianas.

A federação nascia com o propósito de dinamizar os encontros e promover o intercâmbio de experiência e a colaboração mútua entre os diversos grupos que viessem a integrá-la (dezessete atualmente), além de estimular outras atividades comuns, como a edição das obras de Santo Agostinho em português.

Criaram-se várias comissões, como a de Direção, de História, de Liturgia e Devocionário. Muito ativa tem-se mostrado a Comissão de Educação que congrega os dezesseis colégios agostinianos do Brasil, com os encontros em diversos setores: diretores, supervisores e orientadores pedagógicos, pastoral e jovens. Além dessas comissões, tem acontecido também os Encontros dos Formandos Agostinianos, ou seja, dos Agostinianos (as) jovens, ainda em etapa de formação.

Depois da criação da FABRA, aconteceram ainda outros congressos agostinianos: em 1990, o V Congresso, com o tema: “Santo Agostinho, Pastor de Almas”. Em 1993, o VI Congresso: “Espiritualidade Agostiniana”. E em 1996, o VII Congresso: “Oração e Compromisso em S. Agostinho”.

Alem de muitas Ordens e Congregações que seguem a Regra de Santo Agostinho, também presentes no Brasil, há ainda algumas outras que têm uma especial vinculação com a herança agostiniana, haurida no mesmo tronco histórico comum aos grupos que formam a Assunção, as Cônegas de Santo Agostinho, a Congregação das Servas de Maria Ministras dos Enfermos, a Congregação das Filhas do Amor Divino, a Congregação das Religiosas Concepcionistas Missionárias do Ensino, a Congregação das Irmãzinhas da Assunção, Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora.

20 lições para conhecer a Santo Agostinho

 

18.- Finalidade, espiritualidade e apostolado

da ORDEM AGOSTINIANA

1.- FIM E ESPÍRITO DA ORDEM

Que é o que pretendem aqueles que decidiram ser Agostinianos?

A resposta a oferece Santo Agostinho nas primeiras linhas de sua Regra: “Para isto vos haveis reunido aqueles que vivem no mosteiro: para viver unânimes e tenhais uma só alma e um só coração em marcha para Deus”. Deus é, pois, o termo último e definitivo, a meta e ao mesmo tempo o prêmio ao quem tem que caminhar quem aspire a viver como Agostinho. Deus será o objeto da uma conquista pessoal e comunitária.

Agostinho sabia que muitos se tinham santificado no deserto, que tinham alcançado a Deus na solidão. Ele, ao contrário, não aceita esse caminho. Quer chegar a Deus em comum, com seus amigos, todos junto. O caminho elegido passará pelo amor e a concórdia, da unidade de corações e espíritos. Não podemos esquecer que para ele tal concórdia e unidade não se baseia somente no humano, senão que tem seu autêntico ponto de apoio em Deus.

Falamos de chegar a Deus que está expresso naquela famosa frase agostiniana: “Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em Ti”. Isto supõe que na Ordem tem que existir sempre o elemento contemplativo, porque a Deus encontra-se-Lhe, sobre tudo, na solidão do coração, não no meio do barulho do mundo. Assim o cultivo da interioridade une o ideal agostiniano com os ideais dos eremitas de cuja união nasceu a Ordem. Não podemos esquecer, não obstante, que é característica da contemplação agostiniana a comunicação aos outros: fazer aos irmãos partícipes das graças e dons que o Senhor concede.

Intimamente unido com este aspecto da contemplação está o estudo, especialmente das Sagradas Escrituras. É nela onde fala Deus de forma especial e onde encontra-se-Lhe certamente. Mas a vocação ao estudo não vem aos Agostinianos pela ânsia de contemplação, mas também da necessidade do apostolado.

A contemplação, com efeito, não era fim único nem no pensamento de Santo Agostinho, nem na vida da Ordem aos começos, que marcou o seu ser para o futuro. Respeito a Ordem sabemos que o Papa Inocêncio IV a constituiu Ordem Apostólica. É sabido que para Santo Agostinho a contemplação é somente como uma cara da moeda cujo verso é a ação ou apostolado. Recordemos estas palavras da Cidade de Deus: “O amor à verdade requer uma santa tranquilidade; a necessidade da caridade, uma justa ação. Se ninguém põe sobre nossas costas o peso do apostolado, devemos ocupar-nos da busca e conquista da verdade; se, ao contrário, impõe-se-nos, deve ser aceita pelo dever do amor. Mas nem sequer, então, deve-se abandonar o gosto pela verdade para não nos encontrar privados de tal doçura e oprimidos por aquela carga”. Quer dizer, o desejo da contemplação deve existir sempre no ânimo, mas não deve ser colocado antes às obrigações da caridade. A prática do apostolado é uma necessidade iniludível.

Mas a Ordem não tem nenhum apostolado que seja característico: nem o paroquial, nem o docente, nem os estudos, nem as missões, etc. Nenhum excluindo os outros, mas está aberta a todos. Sua única norma é a necessidade da Igreja, mãe num duplo sentido: mãe como para todos os cristãos, e mãe por ser a “fundadora”. As necessidades do momento da Igreja determinarão o campo do apostolado no qual a Ordem trabalhe. A mesma coisa enquanto ao espaço físico: nalgum lugar exigirá, por exemplo, presença educativa, noutro missionária, noutro paroquial, etc. Missão da Ordem é estar sempre preparada e disposta a qualquer serviço que lhe peçam.

Se a contemplação está condicionada pelo apostolado, a fraternidade não está condicionada por nada. Ou seja, ainda no trabalho deve mostrar-se o espírito de fraternidade agostiniana, espírito que tem sua maior expressão na vida de comunidade, entendida mais como unidade de corações que como presença baixo um mesmo teto, ainda que disto somente pode-se renunciar por uma causa grave. O apostolado, como a contemplação deve ser comunitário e para a comunidade, não só a comunidade agostiniana, mas também a comunidade eclesial.

 

2.- MEIOS PARA CONSEGUI-LO

Nasce agora outra pergunta: Quais são os meios para consegui-lo?

Encontramos a resposta, de novo, na Regra e os outros escritos que nos deixou Santo Agostinho e que podemos resumir nos seguintes pontos:

 

A) Pobreza - Comunidade de bens

Meio fundamental para conseguir essa união é ter tudo em comum. Assim praticou-o Santo Agostinho, assim viveu-o antes a primeira comunidade cristã de Jerusalém, tal como o narra São Lucas nos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos que tinham acreditado tinham um coração e uma alma só, e nenhum tinha por própria coisa alguma, ao contrário, tinham tudo em comum... Não existia entre eles indigentes, pois, quantos eram donos de fazendas ou casas vendiam-nas e levavam o preço do vendido e o entregavam aos pés dos Apóstolos e a cada um repartia-se-lhe segundo sua necessidade”. A comunidade de Jerusalém mostrou-se a Agostinho como o modelo preciso para sua comunidade.

Para Agostinho será coluna insubstituível da vida religiosa ter tudo em comum e dar a cada um segundo sua necessidade, O primeiro como manifestação da unidade e o segundo para evitar que a preocupação pelas necessidades materiais impeça ao religioso dedicar-se em plenitude ao serviço de Deus das múltiplas formas que se pressentem ou a Igreja precise.

Diante da pobreza Agostinho se mostra exigente. Antes de abraçar este gênero de vida cada qual é dono dos seus bens ou riquezas. Quando decidiu entrar na comunidade pode dispor deles segundo seus desejos: doa-los aos familiares, dá-los aos pobres ou à mesma comunidade. Mas uma vez dentro, viverá como todos; tudo será de todos; todos receberão do comum. Aquele que fique com alguma coisa, ainda que antes tivesse sido seu, será condenado como ladrão.

O princípio de que a cada um seja dado conforme sua necessidade estende-se a todos os campos: alimentos, vestidos, livros, etc. A caridade saberá condescender com os mais débeis ou com aqueles que antigos costumes fizeram mais delicados. A diferença de trato surgida da necessidade não será motivo de escândalo de ninguém nem de inveja para ninguém, sabendo que “é melhor necessitar pouco do que ter muito”.

Como consequência, os irmãos que se encontrem tomando conta dos bens da comunidade não devem demorar em dar aos outros o que precisem e tem que fazê-lo sem murmuração.

Comum tem que ser tudo. Até o trabalho pessoal: “Ninguém faça nada para si mesmo, mas todas vossas obras sejam feitas em comum e com tanto maior ânimo e entusiasmo como si cada qual trabalhasse para se mesmo”. A maior prova de caridade consiste em saber colocar antes as coisas comuns à próprias. Daqui toma-se também a norma para medir o progresso de cada qual no interior da comunidade: “Sabereis que tanto mais estais adiantados na virtude, quanto mais cuideis as coisas comuns melhor que as próprias”.

De todo o dito resulta que a comunidade de bens está em função da comunidade de vida ou de uma vida em comunhão que é o que deseja Agostinho.

 

B) Castidade perfeita

Quem entra na comunidade agostiniana tem que estar disposto e capacitado para levar uma vida de castidade perfeita. Não porque o matrimônio seja algo mau, mas porque a castidade e melhor. Em consequência, o trato com as pessoas de outro sexo tem que ser normal. Santo Agostinho sabe manter o equilíbrio. Não se proíbe vê-las, mas deseja-las e ser desejado por elas. O mal, quando existe, se encontra somente na pessoa que olha com olhos impuros. Por isso Agostinho não se contenta com uma castidade exterior, corporal; esta sem a castidade do coração não serve para nada. “Quando o interior de uma pessoa é impuro desaparece a castidade ainda que os corpos permaneçam livres de toda violação imunda”.

Apoio para a castidade é a consciência da presença de Deus que penetra até o mais profundo de nossos corações. “Ainda que alguém possa escapar à atenção ou vigilância dos homens, poderá ocultar-se a Deus que tudo vê?”.

A comunidade, por sua vez, tem que ser a guarda da castidade de cada irmão que ali mora. “Guardai mutuamente vossa pureza”. Cada irmão tem que ser o guarda da castidade do irmão; mas ao final ela é um dom de Deus que só concede aos que tem dado sua colaboração. “Deus que habita em vós vos guardará deste modo por meio de vós mesmos”.

 

C) Obediência

Como todo grupo humano também a comunidade agostiniana necessita uma cabeça, um superior. Quem desejar formar parte dela, tem que estar disposto a obedecer. Quem ofende ao superior ofende a Deus. A atitude de quem se aproxime dele tem que ser igual que a do filho com seu pai: amor e respeito e, também, compaixão, porque “quanto se está em lugar mais elevado, tanto está em maior perigo”.

Ao mesmo tempo o superior tem que sentir-se feliz não “por dominar com poder mais por servir com caridade”. A todos tem que dar exemplo de boas obras; tem que corrigir os inquietos, consolar a quem precisar, receber aos doentes, etc. “Ainda que uma e outra coisa sejam necessárias, busque mais ser amado que temido, sabendo que tem que dar conta de todos diante de Deus”.

 

D) O trato com Deus e com os irmãos

Santo Agostinho sabia que cada homem tem sua medida e que não é justo introduzir a todos na mesma forma. O equilíbrio, a compreensão e o respeito pela singularidade de cada pessoa foram sempre suas características. As vemos aparecer quando fala de jejuns e penitências: “Dominai vossa carne com jejuns e privações de comida e bebida em quanto vossa saúde o permita”.

Com tudo, a força interior para ser fiel ao próprio propósito não tem que achá-la o religioso tanto nas penitências e jejuns, quanto na oração. O tempo dedicado a esta é algo fixo na comunidade agostiniana: “Orai nas horas e tempos marcados”. Mas a oração não tem que limitar-se à feita em comum. Cada qual tem que orar quando o deseje. Para isso, que ninguém atrapalhe. A norma diretiva será sempre: “que sinta o coração o que diz a boca”. Não deve ter lugar para a rotina. As orações “quanto mais frequentemente as tenhais, tanto mais santamente deveis fazei-las”.

Do trato continuo com Deus procederá o justo comportamento com o irmão que faça possível a convivência em quanto conquista de Deus. Irmão no que se tem que acreditar quando se queixa de alguma doença, ou pede algo por acha-lo necessário; ao que é preciso corrigir, ainda que doa; ao que tem que perdoar se nos tem ofendido e temos que pedir perdão se fomos nós os que ofendemos. “É melhor quem embravece com facilidade e logo se apressa a pedir perdão que aquele que demora em embravecer, mas dificilmente se decide a pedir perdão. Quem nunca pede perdão ou não o pede de coração, sem motivo está dentro da comunidade, ainda que dela não seja expulso”.

 

3.- DEVOÇÕES AGOSTINIANAS

Como expressão externa de unidade e para cultivá-la, todos os agostinianos tinham já antigamente que assistir à Missa da comunidade. O Ofício Divino rezava-se também em comum. A Ordem nunca teve liturgia própria como tiveram outras ordens, o qual não significa que já desde os inícios da fundação tivesse uma parte própria para celebrar devotamente aos filhos que tinham sido ascendidos à honra dos altares.

A devoção mariana tem sido outra das constantes. Prova disso são as diversas devoções da Virgem que ao longo dos séculos foram cultivadas especialmente pelos agostinianos. Lembremos as seguintes:

Mãe do Bom Conselho.

A devoção de Nossa Senhora do Bom Conselho começou a adquirir culto especial entre os fiéis, ligada desde suas origens à Ordem Agostiniana, a partir do século XV. Está unida a Genazzano, cidade distante 50 km de Roma. Consta que a partir de 1380 os Agostinianos estavam presentes em Genazzano na Paróquia de Santa Maria. Com o decorrer dos anos, a Igreja foi ficando pequena demais e ameaçava de ruína.

Nessas circunstâncias uma agostiniana secular de nome Petruccia, mulher de grandes compromissos de fé, devota da Virgem decidiu oferecer um lugar amplo no sítio de sua casa. Como o projeto era ambicioso e superava os fundos econômicos disponíveis a oferta da devota não foi levada em consideração. Mas ela não cedeu às pressões e deu começo ao projeto com seus próprios médios.

Avançada a obra, apareceu de repente na parede uma imagem da Virgem Maria; o fato comoveu toda Itália e surgiu imediatamente o "milagre", a eclosão de fervor em torno da devoção de Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho. No 25 de abril de 1467. Com motivo deste achado foram tantos os donativos que, ainda em vida da venerável Petruccia, se terminou a igreja, e ainda se edificou um belo convento encostado no santuário.

O culto à Virgem continuou se expandindo até obter as "bênçãos canônicas" no ano 1727, data na qual o Papa Benedito XIII concedeu missa e ofícios próprios, fixando a data em 25 de abril.

Na atualidade, a liturgia agostiniana celebra esta festividade mariana no dia 26 de abril. A mudança de data se efetuou aos 17 de fevereiro de 1781.

Nossa Senhora de Graça

A devoção de Nossa Senhora de Graça lembra a saudação do Arcanjo são Gabriel à Maria, na Anunciação quando falou para Ela: "Deus te salve, Maria, cheia de graça".

O culto a Nossa Senhora de Graça florescia nos ambientes agostinianos desde tempos imemoriais; mas desconhecemos onde e como surgiu. Tal vez porque as ordens mendicantes, na sua fundação, aproveitaram devoções antigas e as acomodaram ao seu peculiar modo de pensar.

A primeira notícia historicamente documentada é do ano 1401 e refere-se a uma confraria organizada nos conventos de Santo Agostinho e Nossa Senhora de Graça em Valência (Espanha) e Lisboa (Portugal).

Pouco a pouco a devoção foi cobrando força em nossas expressões comunitárias e litúrgicas adquirindo grande difusão a partir do século XVI; pelo fato de se começarem a construir conventos sob este título e também o relato de uma lenda que posteriormente espalhou-se, segundo a qual a Virgem de Graça haveria impedido que o Papa tirasse da Ordem a batina branca que então se vestia em sua honra.

A partir do século XVII a devoção é considerada como própria da Ordem. A liturgia específica lhe foi concedida em 1807 pelo Papa Pio VII. Celebra-se no dia 25 de março, Solenidade da Anunciação.

Nossa Senhora, Mãe da Consolação

Os Agostinianos celebram a festa de Nossa Senhora da Consolação em 4 de setembro.

A devoção é antiga. Conta a lenda que Santa Mônica derramava muitas lágrimas diante de Deus em favor de Agostinho, desviado da fé que ela lhe infundira em sua infância; a Virgem a haveria consolado em sua oração anunciando a volta do filho à Igreja Católica; e exortou-a a se vestir de preto e cingir-se com uma correia. Segundo os dados históricos, em sua origem, nenhum laço especial relaciona esta devoção com a Ordem Agostiniana.

Consta que em meados do século XV os agostinianos veneravam na Itália uma imagem de Maria, invocada sob este nome. Uma vez entronizada no coração da Ordem, em poucos anos tomaram-na como titular vários conventos de nova fundação, assim como de confrarias de leigos agostinianos.

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A Virgem Maria é a Padroeira da Ordem, e São José o Padroeiro desde o século XVIII.

20 lições para conhecer a Santo Agostinho

 

A ORDEM AGOSTINIANA NA HISTÓRIA

(Desde 1785 até nossos dias: decadência e novo ressurgir)

1.- Extensão

Dentro deste período, devemos considerar dois momentos bem marcados: de 1785 até 1881 e de 1881 até hoje.

O primeiro deles é um dos mais tristes da história da Ordem. Não obstante ser ter criado algumas províncias novas, como a de Malta (1817), a de Nápoles (1825) e a de Santo Tomas de Vilanova nos EEUU (1874), o número das mesmas diminuiu notavelmente: havia só 22 mais quatro Congregações, com um total de 1900 religiosos e 250 casas. As circunstâncias políticas daquela época trouxeram péssimas consequências para a Ordem. Antecipando-se nalguns países como na França, em quase toda a Europa teve que sofrer os caprichos do poder secular. Ainda que com diferentes maneiras e em distintos tempos, as autoridades civis decretaram a supressão das Ordens Religiosas em diferentes estados. Tirando os Estados Unidos e Filipinas, em poucos lugares viu-se livre de qualquer ataque. Na Europa e América do Sul, concretamente nossa Ordem recebeu um duro castigo.

No que diz respeito a Espanha, é preciso lembrar que depois de um decreto de Pio VII, escrito em 1804 sob pressão dos reis, as províncias da Espanha e hispano falantes ficaram livres da obediência ao Prior Geral, ao estabelecer-se que o cargo devia ser alternado entre um espanhol e um do resto da Ordem, caso este no qual os espanhóis estariam submetidos a um Vicário Geral. Foi um golpe muito duro contra a unidade da Ordem. Mas o maior foi quando em 1835 o poder civil decretou a exclaustração dos religiosos, aos que privou-se-lhes dos seus conventos e propriedades por uma lei denominada de “desamortização”. O único convento da Ordem que não foi afetado foi o de Valladolid pelo fato de enviar pessoal a Filipinas. Deste modo salvou-se a Província de Filipinas que depois foi a alavanca para restabelecer a Ordem na Espanha.

Responsáveis pela terrível situação não foram só as circunstâncias externas. Fatores internos tiveram também um grande peso. De uma parte, a Ordem não soube encontrar superiores capazes de enfrentar-se à difícil situação por vários motivos. De outra o fervor religioso havia diminuído respeito a tempos passados, sendo envolvida a Igreja em um fenômeno que teve sua origem na Revolução Francesa.

Todo isso fez que se sentisse vivo o desejo de renovação. Renovação que só chegou quando Leon XIII nomeou Prior Geral a Pacífico Neno, ao que seguiram outros Priores Gerais renovadores como Sebastião Martinelli, Tomás Rodríguez e, sobretudo, Eustásio Estevão, ótimo Geral dos tempos modernos.

Neste período muitas coisas mudaram. Iniciou-se uma campanha de promoção de vocações, o governo da Ordem fez-se internacional, no Capítulo de 1895 os espanhóis voltam à unidade da Ordem; aos Capítulos começam a assistir membros de todos os países; renova-se o fervor missionário; revisam-se as Constituições; introduzem-se causas de beatificação de vários irmãos que estimulam o fervor religioso; floresce de novo a paixão pelos estudos, sobre tudo a partir de que o mosteiro do Escorial, centro de estudos, confia-se à Província de Filipinas.

O número de Províncias volta a aumentar. Com religiosos da Província de Filipinas reinstalase a de Castela (1881) que tinha sido suprimida. Da mesma província surgem em 1895 a Matritense do Escorial e em 1926, a de Espanha. Em 1895 funda-se também a de Holanda. Em América do Norte a jovem Província de Santo Tomás de Vilanova da vida a outros dois novos filhos: a de Chicago (1941) e a de Califórnia (1968). A de Alemanha dá origem à de Canadá (1967) e a de Irlanda à de Austrália (1952). Nestes últimos anos funda-se em Portugal e em Cuba, e promovem-se as vocações na Índia e Tanzânia. O número de assistências aumenta constituindo-se a de América do Sul (1965) e a de América do Norte (1968). Em 1912 a Congregação dos Agostinianos Recoletos e em 1931, a dos Descalços de Itália, se constituem em Ordens independentes.

Como pontos negativos a revolução mexicana e a guerra civil espanhola supuseram muitas baixas nos dois países. Como consequência da situação política nos países socialistas do Este de Europa, desapareceram as Províncias de Polônia, Boêmia e a Abadia de Brno na antiga Checoslováquia. Ultimamente, membros da Ordem têm voltado a fundar na Polônia e na República Checa.

Como todas as outras Ordens, também a de Santo Agostinho tem sofrido a situação na que se tem encontrado a Igreja depois do Vaticano II. O número de membros tem descendido sensivelmente e muitas Províncias têm graves problemas vocacionais.

Atualmente o número de religiosos é inferior aos 3000 com umas 373 casas pertencentes a 36 províncias e Vicariatos.

As nações nas que está presente a Ordem, quer porque nelas trabalham Agostinianos, quer porque são pátria deles, são 43: Alemanha, Argélia, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Brasil, Canadá, Colômbia, Cuba, Chile, China, Equador, Espanha, EEUU, Etiópia, Filipinas, França, Holanda, Índia, Indonésia, Inglaterra, Irlanda, Itália, Japão, Malta, México, Nigéria, Panamá, Peru, Polônia, Portugal, Porto Rico, República Checa, República Dominicana, Suíça, Tanzânia, Tunísia, Uruguai, Vaticano, Venezuela e Zaire.

 

2.- Estudos

A decadência que apontamos na primeira parte deste período na vida da Ordem, sentiu-se também no nível dos estudos. Não obstante esta constatação, ainda podem-se enumerar homens mundialmente conhecidos célebres, sobretudo, no campo das Ciências Naturais. Merecem menção especial homens como o padre Manuel Blanco (+ 1845) autor da estupenda Flora de Filipinas e sobre tudo o celebérrimo entre os cientistas Gregor Mendel (+ 1884) iniciador do estudo das leis da herança com seus experimentos sobre ervilhas no jardim da Abadia de Brno (República Checa) à que pertencia.

No fim do século acorda de novo na Ordem o afã pelos estudos. Na Espanha inicia-se um grande movimento cultural com a entrega à Ordem do Mosteiro do Escorial, que se deveu à influência de Tomás Câmara (+ 1904), bispo de Salamanca, influência que se estendeu além da Ordem a toda a Igreja espanhola. Como teólogo destaca na Espanha o pare Honorato del Val e, na Itália, o padre Palmieri. Como patrólogos, o padre A. Cassamassa, italiano, e o padre espanhol A. Custódio Vega. Como filósofo o padre Marcelino Arnáiz (+ 1930) e orientalista o Cardeal Agostinho Ciasca (+1902).

Como centros de estudos eclesiásticos na Ordem, funda-se, sempre sob o impulso do padre Câmara, o Colégio Internacional Santa Mônica em Roma, centro de confluência de jovens de toda a Ordem que vão especializar-se em Ciências Sagradas, com o adjunto Instituto Patrístico “Augustinianum”. Na Alemanha abre-se o Instituto Oriental. Ultimamente, em 1967, se afilia à Universidade de Comillas o Seminário Maior Agostiniano de Valladolid, centro de estudos da cidade do Pisuerga. Também nestes últimos anos funda-se um Centro Teológico de Estudos Agostinianos com sede no Escorial e Los Negrales (Madri) e o Centro de Estudos Agostinianos de São Paulo com uma biblioteca especializada em Santo Agostinho.

Várias são as revistas de caráter científico que publica a Ordem: Analecta Agustiniana, publicada pela Cúria Geral; Estudio Agustiniano e Archivo Agustiniano (Província de Filipinas); Revista Agustiniana (Província de Castela); La Ciudad de Dios (Província Matritense); Religión y Cultura (Província de Espanha); Augustinianum (I. P. “Augustinianum”); Augustiniana (Província Belga); Augustinian Studies (Província de Vilanova); Ostkirchliche Studien (Província Alemã), etc. Geralmente a cada revista vai unida uma série de publicações.

Temos que lembrar que a primeira revista científica publicada na Espanha foi chamada revista Agustiniana que adotou vários nomes e hoje encontra sua continuação em La Ciudad de Dios.

 

3.- Tarefas apostólicas

Neste período continuam-se as tradições de épocas anteriores: atividade paroquial, pregação, ensino, etc. Convêm ressaltar o grande auge que esta última consegue, sobretudo nas províncias espanholas. Milhares de crianças e jovens têm recebido educação nos seus colégios no primeiro ou segundo grau e nas suas universidades o ensino superior. Neste período abrem-se universidades civis. Atualmente as existentes são: em Madri o Real Colégio Universitário Maria Cristina do Escorial, mantida pela Província Matritense; a de Santo Agostinho em Ilo Ilo, nas Filipinas, mantida pela Província com esse nome; a de Vilanova, na Pensilvânia (EE.UU.) da Província homônima, à qual haveria de acrescentar a também chamada de Vilanova na Havana (Cuba), se o governo comunista não tivesse expropriado e expulsado aos agostinianos.

Pregadores célebres da presente época foram James Doyle, bispo de Kildare (+ 1834), conhecido defensor da liberdade e dignidade do povo irlandês. Tal vez o maior orador de Espanha de fins do século passado foi o já citado Tomás Câmara, ao que segue de perto Zacarias Martínez, arcebispo de Santiago de Compostela (+ 1933).

Convêm salientar a atividade que os Agostinianos alemães desenvolvem em relação às igrejas cristãs orientais separadas.

O número de Agostinianos na jerarquia da Igreja mudou segundo os tempos e modos de proceder da mesma Igreja.

 

4. Tarefa misional

Também as missões sofreram as consequências da falta de pessoal na Ordem na primeira metade do presente período. As vicissitudes negativas que sofreu a Ordem nas Metrópoles significaram um golpe duro para aquelas, desde o momento que não tinham outra maneira de conseguir pessoal. O primeiro período, foi uma época na que se fechou um capítulo glorioso de nossas missões. A grandiosa obra realizada pelos Agostinianos portugueses não deu para ser continuada ao ficar suprimida pelos poderes civis a Província daquele país em 1834. Por falta de pessoal também se abandonou a missão na China.

Mas o espírito missionário não morreu. Prova disso são os vários campos de missão que voltaram a abrir-se para a Ordem. A Província de Filipinas, missionária de nascimento e por uma tradição sem interrupções até o ponto que todos seus religiosos fazem votos de ir às missões sempre que o superior o mandasse, voltou a entrar na China em 1879, por obra dos padres Elias Suárez e Agostinho Vilanova. A missão acabou seus dias em 1954, expulsados os missionários espanhóis pelas forças comunistas de Mao-Tse-Tung. Ali ficaram alguns agostinianos nativos chineses dos que pouco voltamos a saber. A mesma Província depois da perda de Filipinas para Espanha (1898) estendeu-se por América Latina e já em 1901 tinha aberto outra missão em Iquitos (Peru) na selva amazônica que perdura até hoje. Finalmente em 1976 abrem-se, por primeira vez, as portas da África e os padres Agostinho Pérez e Vitalino Malagón trasladam-se à Tanzânia.

Sempre na Espanha, a Província do mesmo nome, abre em 1969 uma missão em Cafayate (Argentina) e a Matritense em Tolé (Panamá).

À Província Irlandesa confiou-se-lhe em 1883 uma missão na Austrália que deu origem à Província homônima. Mais tarde estendeu-se à Nigéria (África) onde atendem uma florescente missão que conta já com Agostinianos nativos e tem-se constituído em Província. Ultimamente tem ajudado à Província do Equador.

Em 1952, por obra dos norte-americanos, os Agostinianos voltam ao Japão na mesma região na que séculos passados outros irmãos seus tinham derramado seu sangue por confessar sua fé. A mesma província de Vilanova atende outra missão em Chuquinbambilla (Peru).

Ao mesmo Peru, tem ido as províncias italianas, abrindo assim um novo capítulo abandonado na sua história. A Província de Malta tem-se estendido pelas terras africanas de Argélia de grandes lembranças agostinianas e também tem chegado ao Brasil.

Outros Agostinianos Centro Europeus tem sentido o chamado missionário. Desde 1953 os holandeses encontram-se na Indonésia, tendo entrado já em 1932 na Bolívia. Os belgas desde 1952 no Zaire, missão esta que sofreu muito no momento da descolonização. Os alemães colaboram com eles. A mesma Província Alemã mantêm em Friburgo (Suíça) um centro de assistência aos estudantes do terceiro mundo que se acham naquele país por motivos de estudo.

Muitos destes campos que foram ou ainda são de missão propriamente são dioceses ou Vicariatos Apostólicos regidos por bispos Agostinianos.

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16.- A ORDEM AGOSTINIANA NA HISTÓRIA

(1518 -1785: Máximo esplendor)

1.- EXTENSÃO

As consequências da reforma protestante iniciada por Lutero não demoraram em serem sentidas em toda a Ordem. Lutero foi um religioso Agostiniano da Congregação de Observância de Saxonia. Sua personalidade e obras tem sido muito discutidas, sofrendo as mais duras críticas e recolhendo os mais cálidos louvores, conforme se tratasse de historiadores católicos ou protestantes. Hoje as posições mais moderadas de uma e outra parte encontram-se mais perto um dos outros sem ter chegado ainda a um encontro final. Numa coisa coincidem: nos grandes talentos dos que ele estava dotado. Seus méritos a respeito da língua alemã não sofrem comparação com os de ninguém. A respeito à Reforma, ninguém nega que ele foi sincero, que o fez foi movido por um autêntico amor à Igreja, ainda desde a postura católica não se pode negar que ultrapassou os limites de uma justa crítica, sobretudo no final de seus dias. Com isso causou um dano imenso à mesma Igreja que desejava defender e à vida religiosa em particular. Sem dúvida ele foi o iniciador da divisão na Igreja. Convêm não esquecer, não obstante, que sua obra teria sido em vão, se não houvesse encontrado as circunstâncias favoráveis.

Alguns Agostinianos seguiram Lutero no abandono da Ordem e da Igreja Católica, sobretudo na Alemanha, ainda que não exclusivamente, pois sua influência chegou também aos conventos da França, Países Baixos e Itália. As províncias alemãs ficaram muito debilitadas, contribuindo para isso os poderes civis influenciados pelas circunstâncias religiosas.

A Ordem experimentou percas também na Hungria e Inglaterra. As províncias agostinianas daquelas nações desapareceram no mesmo século por causas diferentes. Na Hungria tiveram eco as ideias luteranas; mas a causa fundamental é a invasão dos turcos e na guerra civil entre os aspirantes ao trono. Na Inglaterra desapareceu pelas medidas tomadas por Enrique VIII, a partir do momento da sua separação da Igreja Católica. Só se salvaram alguns conventos da Irlanda, que deram origem em 1581 à Província Irlandesa.

A pesar das dolorosas perdidas, a Ordem resistiu a mais grave crise de sua história. Quase a o mesmo tempo se iniciava um ressurgir glorioso que faz deste período o mais brilhante da própria historia. Graças aos Superiores Gerais, de primeira categoria, entre os que sobressai Jerônimo Seripando de quem falaremos mais a frente.

Também o número de províncias e congregações alcança neste período seu número mais alto. Muitas daquelas se dividem dando origem a outras novas. Tendo como exemplo a Espanha, neste período existem a de Castela ou antiga de Espanha; a de Andaluzia, surgida em 1581 da anterior; a já antiga de Aragão e Catalunha. Em 1650, também da de Castela nascia a das Ilhas Canárias, além da de Portugal. Espanha que se tinha conservado fora do luteranismo estava vivendo uma época do esplendor religioso do qual participou a Ordem. Só assim pode-se explicar a enorme labor missionária realizada em América e no Extremo Oriente. Dela e das províncias que ali surgiram falaremos no apartado dedicado às missões.

Se o período anterior foi o das Congregações de Observância, o presente é o das Congregações dos Descalços. Seu número não se limita às da Espanha e Itália. Outras nasceram na França (1596), na Colômbia (1604) e em Portugal. A Congregação dos Recoletos de Espanha estendeu-se a América, Filipinas e Japão; a de Áustria, ao império austríaco.

No total possuía a Ordem na primeira parte deste período 27 províncias, 10 congregações com um número aproximado de 800 casas. O número de religiosos era ao início de uns 8000, que depois aumentaram a 12000. No final do período o número de províncias tinha ascendido a 43, as congregações a 13 e o de religiosos a 20000.

 

2.- ESTUDOS

Como em outros aspectos também neste o presente período foi o mais frutífero e gloriosos da Ordem.

Se no ressurgir da Ordem Seripando deu um grande impulso, nos estudos sua influência não foi menor. A obra de Seripando em prol dos estudos não se limitou a Ordem, mas estendeu-se à Igreja inteira. Desde a tribuna do Concílio de Trento no qual participou como Delegado do Papa advogou por uma autêntica formação humanística, filosófica e teológica dos sacerdotes. Ele foi um personagem de primeiríssima categoria neste campo. Sem dúvida é um dos maiores teólogos da Ordem em todos os tempos e, também, o mais célebre teólogo do Concílio de Trento.

Entre os cultivadores da ciência eclesiástica são muitos os que merecem ser destacados. Para evitar multiplicar nomes mencionaremos somente os mais importantes. Por ordem cronológica, Egídio de Viterbo (+1532) que fez o primeiro discurso do Concílio de Latrão. “Não só sobressaiu como poeta, orador, filósofo e teólogo, mas também como historiógrafo e bom conhecedor das línguas orientais”. Dionísio Vázquez (+1539) levou a cabo “na literatura religiosa, singularmente na do púlpito, uma revolução semelhante à que produziu um século antes São Vicente Ferrer”. Santo Tomás de Vilanova (+1555) cujos sermões são de grande beleza e riqueza, quem se adiantou em muitos aspectos ao Concílio de Trento, como foi na ideia de fundar seminários. Onofrio Panvinio (+1568) ao que poderíamos chamar o pai do estudo da antiguidade cristã. Alonso Gutiérrez da Vera Cruz (+ 1584) no México, “uma das figuras mais destacadas da história mexicana: defensor dos direitos dos índios, autor de importantes livros e tratados, fundador de centros de cultura para os índios, de colégios e bibliotecas, primeiro professor de Sagrada Escritura e de Teologia Tomista na recentemente fundada universidade de México”. Frei Luís de Leon (+1591): “príncipe da lírica espanhola, fino conhecedor dos clássicos greco-latinos e familiarizado com os Santos Padres, Frei Luís de Leon foi, sobretudo um apaixonado estudioso e genial intérprete da Bíblia, fonte principal de seus melhores livros”.

Outros teólogos de importância foram Bartolomeu de Usigem (+1532) que tinha sido professor de Lutero e João Hoffmeister (+1547), dois autores que se opuseram com vigor ao heresiarca; Cristóvão de Padua e Lourenço de Vilavicêncio. Entre os autores ascéticos e místicos, o Beato Afonso de Orozco, o Pe. Agostinho Antolínez, Santo Tomás de Vilanova, Pedro Malon de Echade com sua célebre obra A Conversão da Madalena, o português Tomé de Jesus, Luís Montoya; além de Frei Luís de Leon com seus Nomes de Cristouma cume da literatura religiosa de Ocidente”. Bartolomeu dos Rios impulsor da devoção mariana, etc.

Como filósofos podem se destacar Afonso Gutiérrez da Vera Cruz e Diogo de Zúñiga. Entre os historiadores além do já citado Onofrio Panvinio, João González de Mendoza quem na sua História das Coisas mais notáveis do Reino da China descobriu para o Ocidente aquele misterioso império. Tomás de Herrera foi historiador da Ordem. Na Espanha não pode ser esquecido o Pe. Enrique Florez que compus sua monumental obra conhecida como Espanha Sagrada. Ângelo Rocca foi o fundador da conhecida Biblioteca Angélica de Roma, a primeira aberta ao publico na Itália e confiscada à Ordem pelas autoridades do estado. André de Urdaneta era, a juízo de Filipe II, o melhor cosmógrafo se sua época. Na corte do mesmo Rei era médico Agostinho Farfán.

De época mais tardia, mas dentro deste período, são os grandes nomes da escola agostiniana: Enrique Noris (+ 1704) e João Lourenço Berti (+ 1766).

 

3.- TAREFAS APOSTÓLICAS

São as surgidas do contado com o Povo de Deus. Muitos Agostinianos foram nomeados Pastores da Igreja, alguns chamados a reger dioceses de grande categoria na Europa ou em países de missão. Dos primeiros os mais importantes são os já citados, Jerônimo Seripando e Santo Tomás de Vilanova, arcebispos de Nápoles e Valência respectivamente; dos segundos, Aleixo de Meneses, arcebispo de Goa, na Índia.

Os membros da Ordem continuaram, como no período anterior repartindo o pão da palavra através da pregação. Numerosos foram os pregadores de fama, dos que já mencionamos alguns.

A eles temos que acrescentar Bernardino Palomo. O mesmo Seripando “foi um dos principais renovadores da pregação cristã, com o bom uso da Bíblia e segundo o espírito dos Santos Padres”. Célebres foram também Agostinho Moreschini, André Getti de Volterra e Abraão de Santa Clara, pregador da corte em Viena, como antes o Beato Afonso de Orozco o tinha sido na de Filipe II.

A tarefa pastoral não era a mesma em todas as partes da Ordem. Na Itália, já desde antigo, prevaleceu a atividade paroquial. Na França se dedicaram principalmente à labor paroquial e as missões populares. Na Bélgica, sobre tudo a partir do XVII se incrementa a tarefa de educação da juventude, rivalizando com os jesuítas. Na Alemanha desenvolveu-se muito a pregação e certa predileção pelo culto litúrgico. Na Espanha a Portugal, além da pregação, começa-se nessa época a labor educadora na que se tem adquirido tantos méritos. Mas sobre tudo, sua grandeza tem que contemplá-la na atividade missional.

 

4.- LABOR MISSIONAL

A atividade missionária agostiniana neste período foi obra das províncias de Espanha e Portugal. Seu campo de trabalho estendeu-se a três continentes: América, Ásia e África.

A.- AMÉRICA.

México. O primeiro país do novo mundo ao qual chegou um Agostiniano provavelmente foi Venezuela. Ali se encontra em 1527 o aragonês Vicente de Requejada. Mas foi em México onde primeiro cresceu com força a árvore da vida agostiniana. O 22 de maio de 1533 chegavam a Veracruz sete agostinianos da Província de Castela, ao frente dos quais estava o padre Francisco da Cruz. Dois anos mais tarde chegava outro grupo de doze, seis da mesma província e o resto da de Andaluzia. Grupos idênticos foram chegando de modo que em 1562 havia 14 conventos e seis anos mais tarde, em 1568, funda-se a Província do Santíssimo Nome de Jesus de México. O florescimento foi tal que já em 1602 divide-se dando origem à segunda província mexicana, a de Michoacán. Ambas subsistem até hoje. A labor agostiniana naquelas terras foi fundamentalmente evangelizadora, mas também de promoção humana e cultural. Numerosas escolas e Igrejas são testemunho da atividade dos agostinianos e de suas qualidades técnicas e artísticas.

México foi naquela primeira época a base de operações para se movimentar pelo continente e fora dele. Depois falaremos da evangelização de Filipinas levada a cabo desde aqui. Mas antes devemos lembrar a expedição que em 1541 saiu destas terras, a primeira em dar a volta ao mundo. Formavam parte dela quatro agostinianos que na Índia se encontraram com São Francisco Xavier, quem fez deles cálidos elogios. Estes padres eram: Jerônimo de Santistevão, Nicolau de Perea, Sebastião de Trassierra e Afonso de Alvarado.

Peru. De México passaram para Peru. Os primeiros a chegar foram os padres João de Estacio, confessor do Virrei, e João da Madalena. Era o ano 1551. Mas já antes, ainda que no mesmo ano, tinham chegado à terras dos incas outros doze procedentes de Espanha. Como tinha acontecido em México, também aqui chegaram numerosas expedições nos anos seguintes. Na de 1563 veio Diogo Ortiz, protomártir agostiniano no Peru. Em 1575 tinha-se fundado a Província Peruana, cujos conventos estendiam-se até a atual Bolívia, que então formava parte do Peru. À obra evangelizadora uniram a cultural. Em 1608 a Escola de São Ildefonso era declarada por Paulo V Universidade Pontifícia. Agostiniano era o célebre escritor peruano Fernando Valverde (+ 1657). Dessa província era membro o único Prior Geral Latino-americano, o padre Francisco Xavier Vázquez.

Equador: Os dois primeiros agostinianos chegaram a esta nação em 1573 enviados por desejo de Filipe II desde o Peru. Eram os padres Luís Álvarez de Toledo e Gabriel de Saona. A nova província fundou-se sob a proteção de São Miguel em 1579. Também aqui o colégio de São Fulgêncio de Ruspe foi declarado Universidade Pontifícia em 1603. Digno de lembrar é o convento de Santo Agostinho de Quito, um verdadeiro museu de pintura na capital equatoriana.

Colômbia e Venezuela. Ou seja, a Nova Granada daquele tempo. Já em 1601 existia a Província de Nossa Senhora de Graça e em 1663 a dos Recoletos. Os frades que a deram vida à primeira chegaram do Equador em 1575. O primeiro deles, chamado Luís Próspero Pinto, fundou em Bogotá o convento que daria o nome à Província.

Chile: Em 1595, por desejo de Filipe II, chegam os primeiros agostinianos a este país andino. A frente da expedição de seis membros ia o Padre Cristóvão de Vera. A Província fundou-se em 1627. Atenção especial merece Gaspar de Villarroel, bispo de Santiago de Chile. Desta nação passaram depois para Argentina.

Outros países. Os agostinianos fundaram já em 1608 uma casa em Cuba e dois anos depois outra em Guatemala e no Brasil. No século anterior tinham estado presentes também em Honduras e Porto Rico.

 

B.- ÁSIA

Filipinas: Os primeiros missionários estáveis que chegaram àquelas terras de Oriente foram agostinianos espanhóis procedentes de México, que escreveram uma das páginas mais gloriosas da história missional. A expedição foi enviada por Filipe II e como guia da mesma o Rei nomeou André de Urdaneta e como chefe militar André de Legazpi. Além de Urdaneta iam outros quatro agostinianos: Martim de Rada, Diogo de Herrera, André de Aguirre e Paulo de Gamboa. Desembarcaram em Cebú, em 1565 onde aquele mesmo ano, fundaram o primeiro convento. Poucos anos mais tarde fundava-se a Província do Santíssimo Nome de Jesus de Filipinas. Tantos eram os religiosos que tinham chegado àquelas terras que no fim do século XVI existiam 35 conventos. Em 1599 iniciava-se a construção do Convento Santo Agostinho de Manila, “o Escorial de Filipinas”, um edifício que tem aguentado os séculos e numerosos terramotos daquelas terras. Os missionários que chegaram a Filipinas “escreveram sem dúvida as páginas mais heroicas de nossas missões, primeiro naquele arquipélago e depois com o martírio no Japão”.

Japão. Os primeiros agostinianos que passaram às terras do sol nascente foram os padres Francisco Manrique e Mateus de Mendoza, em 1584. Não obstante, a missão agostiniana naquele país não começou até 1602 por obra de Diogo de Guevara e Eustásio Ortiz. Depois de um trabalho que prometia muito, em 1614 chegaram as primeiras perseguições, nas que tiveram parte os protestantes ingleses e holandeses, que obrigavam os missionários a viverem ocultamente entre grandes perigos. Pouco depois chegou o momento de selar a fé com o próprio sangue. Em 1632 eram martirizados os últimos agostinianos. Assim fechou-se uma página gloriosa de nossas missões no Extremo Oriente.

China. Os primeiros missionários agostinianos chegaram a este imenso país em 1680. Mas já tentaram entrar antes. De fato, desde o início pensavam entrar na China mais do que nas Ilhas Filipinas. Não pouparam esforços para entrar como pregadores da fé, mas não conseguiram. Em 1575 os padres Martim de Rada e Jerônimo Martim o conseguiram, mas como embaixadores do governador de Filipinas. Como não lhe foi permitido pregar o evangelho voltaram às Filipinas. A obra propriamente missional e cheia de sacrifícios e frutos foi iniciada pelos padres Álvaro de Benavente e João Nicolau de Rivera e chegou até 1800 quando tiveram que abandonar aquele campo por falta de pessoal. Meio século depois voltariam a entrar.

Índia. Os agostinianos portugueses assim como os espanhóis tinham um grande fervor missionário. Em 1572 encontravam-se na Índia e logo se fundou a Congregação das Índias Orientais dependente da Província portuguesa. Estendia-se desde Arábia até Macau. Atenção especial merece o arcebispo de Goa, Aleixo de Meneses, ao mesmo tempo Virrei. Existiram fundações agostinianas em Iraque até 1640; no Irã desde 1602 até 1747. Também em Geórgia, Paquistão, Sri Lanka (Ceilão). As missões perseveraram até a supressão das Ordens religiosas em Portugal em 1834.

 

C.- ÁFRICA

A façanha missionária realizada pelos agostinianos portugueses na Ásia tinha sido precedida por outra também notável na África, ainda que menos conhecida na Ordem. A primeira presença dos agostinianos no continente negro remonta-se a 1554, quando Gaspar Cão foi nomeado bispo da Ilha de São Tomé no golfo da Guine. Na sua viagem àquela região acompanharam-lhe outros agostinianos que logo se estenderam por terras do Congo a Angola onde floresceu a missão.

Não foi esta a única presença na África. Procedentes da Goa (Índia) os mesmos agostinianos portugueses estabeleceram-se na parte oriental do continente, concretamente na Ilha de Zanzibar e costa de enfrente: a cidade de Mombassa (Quênia) e ilha de Pena. Isto acontecia a finais do XVI. Não faltaram também não aqueles que deram o seu sangue em defesa da fé.

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15.- A ORDEM AGOSTINIANA NA HISTÓRIA

(1244-1518 Esplendor e decadência)

 

1.- extensão

A Ordem fundada em 1244 por meio da união de grupos de eremitas da Toscana tinha-se estendido seis anos depois pelas regiões italianas de Liguria, Umbria, Romanha. Em 1250 passa à Ordem o famoso convento de Santa Maria di Popolo em Roma, possessão anterior dos frasciscanos.

A extensão da Ordem não se limitou aos territórios italianos. Antes de 1255 está documentada a existência de Agostinianos na França e Inglaterra e em 1256 também na Espanha e Alemanha.

Da mesma Grande União veio uma grande força expansiva, ao unir-se ao já existente a vitalidade das novas ordens que se uniram. Não lhe tirou a força o fato de que a de São Guilherme e a Congregação de Monte Favale se separaram cedo. Ao menos os conventos dos Guilhermitas existentes na Alemanha e Hungria continuaram pertencendo à Ordem. A Ordem do Beato João Bom estava estendida pelas regiões de Emilia Romanha, Lombardia, Véneto e Umbria. Tem que falar dos conventos de outras Ordens unidas cuja identidade desconhece-se e os da Província lombarda da Ordem dos Padres Católicos que se uniram em 1256.

No momento da Grande União, conhece-se a existência de Províncias na Espanha, Alemanha, França e Itália. Provavelmente nesta última nação existiam várias, correspondentes aos distintos grupos que tinham-se unido.

O número de conventos não se conhece com precisão. Algumas fontes falam de um aumento de 180 a 300 durante o período que esteve sob a proteção do Cardeal Ricardo degli Annibaldi. Respeito ao número de religiosos fala-se de 2000 e 3000, cifra que parece um pouco exagerada.

No fim do século XIII a Ordem tinha-se estendido consideravelmente. O número de províncias tinha ascendido a dezesseis, as quais seis estavam fora do território italiano. Às já citadas é preciso unir as de Hungria, Provenza e Inglaterra.

Trinta e cinco anos depois contam-se já vinte e quatro. Têm desaparecido algumas das anteriores e têm surgido outras novas. Quando falamos de desaparição, às vezes trata-se só do nome. Por exemplo, a Província alemã não aparece porque se tem dividido em quatro: as de Baviera, Colônia, Renania-sueva e Turingia-saxona. Na França aparecem as de Narbona e Tolosa; na Espanha, a de Aragão; na Itália a de Sicília e Terra Santa, com seus conventos nas ilhas do Mediterrâneo. Por estas datas a Ordem estendia-se desde Polônia até Portugal e desde a Irlanda até as Ilhas do Mar Egeu. A situação durou até o século XVI com algumas adições nos Balcãs, Ucrânia e Países Bálticos.

É evidente que até 1350 a Ordem seguiu um processo de continuo crescimento e a partir dai começou a decadência. Uma das causas, não a menos importante, temos que vê-la na Peste Negra, doença que causou numerosíssimas mortes. Em três anos morreram mais de 5000 Agostinianos. Outro motivo temos que vê-lo na decadência geral que vivia a Igreja como consequência sobre tudo do Cisma de Ocidente.

Para fazer frente a esta situação surgiram as Congregações de Observância, que encontraram apoio dos Superiores Gerais que tomavam sob seu controle imediato o governo dos conventos que tinham optado pelo retorno a uma vida mais autenticamente religiosa. Numerosas foram as italianas. Fora desta nação é preciso lembrar na Alemanha a de Saxonia da onde haverá de sair Lutero. Na Espanha começou em 1431 a través da Província de Castela e a partir dela estenderam-se os mesmos ideais de observância a outros conventos da Península.

Neste período três províncias mais unem-se à anteriores: a dos Abruzos (Itália), a de Portugal cujos conventos seguiam pertencendo à de Castela e a de Cerdenha. As duas primeiras fundadas em 1476; a última em 1512.

 

2.- OS ESTUDOS DURANTE ESTE PERÍODO

Os estudos são uma dimensão muito importante da vida da Ordem em quanto herança de Santo Agostinho e em quanto instrumento para a contemplação e o apostolado.

Para encontrar pela primeira vez algo legislado sobre os estudos temos que ir até 1290. Nesta data incluía-se nas Constituições o seguinte, referido ao Superior Geral: “Deve ter como máxima preocupação que se mantenham na Ordem as casa de estudos e formação, sobre os que se depende a estabilidade da Ordem; que especialmente nas casas de estudo gerais deve-se dar o maior apoio e atenção aos estudos e que aqueles que se encontrem dedicados ativamente aos mesmos em cada província sejam estimulados em tal direção”.

A pesar de que é a primeira vez que se legisla algo a respeito nota-se claramente que a preocupação pelos estudos existia já desde antes. De fato, se faz referência à existência de casas dedicadas aos estudos. A primeira delas foi comprada em 1259 em Paris pelo Prior Geral Lanfranco de Milão e foi aberta para os estudos um ano mais tarde. Ali estudou o célebre Egídio Romano, discípulo de Santo Tomás de Aquino. Foi ele o primeiro agostiniano em conseguir o grau de Mestre em Teologia em 1285. Sua fama na Ordem foi tão grande que já no Capítulo de Florença de 1287 proclamou-se-lhe como guia de todos aqueles que na Ordem se dedicassem aos estudos. Foi considerado como o melhor professor da universidade de Paris do seu tempo. Em 1292 foi escolhido Prior Geral e três anos mais tarde arcebispo de Burdeos. Sua morte aconteceu em 1316. A mais conhecida de suas numerosas obras é a titulada O Governo dos Príncipes, traduzido cedo a várias línguas de Europa e até o hebraico.

Entre os numerosos que atrás dele obtiveram títulos acadêmicos, convém relembrar ao discípulo Tiago de Viterbo, seu sucessor na cátedra de Paris. Também escreveu muito. Entre suas obras mais famosas lembramos O Governo Cristão, considerado como o primeiro tratado sobre a Igreja. Também é importante O Poder da Igreja, que influenciou no Papa Bonifácio VIII. No mesmo campo está a obra de outro Agostiniano famoso de sua época, Agostinho de Ancona (+1328), titulada Suma sobre o Poder da Igreja, considerado como o primeiro tratado sobre o Pontífice. Todas estas obras tinham como finalidade concreta defender os direitos dos Papas de então contra as pretensões dos reis.

Dos Priores Gerais destacam no plano intelectual durante este período: Tomas de Estrasburgo (+1357) e Gregório de Rímini (+1358). Este último foi tal vez quem melhor soube compreender e expor o pensamento de Santo Agostinho, sobre tudo em Teologia.

Dentro do campo filosófico podemos destacar, em Espanha, Afonso Vargas de Toledo (+1366) grande personagem do seu tempo que acabou seus dias como arcebispo de Sevilha.

Também vale a pena recordar os autores de temas espirituais. Sobressaem Enrique de Friemar (+1348) ótimo representante do misticismo medieval alemão. O Beato Simão de Cássia (+1348) que exerceu grande influência em Santa Catalina de Sena e Hernão de Schildesche (+1357).

Nos anos posteriores a 1350, ainda que a Ordem no seu conjunto sofresse uma notável decadência nos seus estudos se manteve no primeiro plano. Pode-se afirmar que desde 1350 até 1380 ocupou o primeiro lugar entre as Ordens Religiosas, o qual pode dar a entender o número e qualidade dos teólogos Agostinianos. Entre os personagens celebres lembramos Ugolino de Orvieto (+1374) grande organizador da Universidade de Bolonha, em colaboração com Boaventura de Padova. Agostinho Favaroni de Roma. Na Áustria temos que citar a Leonardo de Carintia; em Praga a Nicolás de Laun; na Hungria a Estevão e Alexandre de Hungria; na Alemanha a Gyso de Colônia e Nicolás de Neuss; na Espanha, Bernardo Oliver, Martín de Córdoba e Tiago Pérez de Valência.

Também entre os humanistas tiveram os Agostinianos grandes representantes. Os amigos mais próximos de Petrarca e Bocaccio eram Agostinianos. Lembremos Martín de Siena quem acompanhou a este último na hora da morte. Humanistas Agostinianos foram Dionisio do Borgo do Santo Sepulcro, Bartolomeu de Urbino, Luiz Marsili, Ambrósio Calepino quem com o seu Dicionário de Sete Línguas mereceu que o seu sobrenome passasse a ser sinônimo de dicionário.

 

3.- TAREFAS APOSTÓLICAS

Ninguém duvida que os estudos constituam já um apostolado qualificado. Não em si, mas em quanto vão acompanhados da comunicação do obtido através deles aos demais, seja escrevendo, seja no ensino direto ou em outras formas de contato com o Povo de Deus.

Já nos primeiros anos de sua existência a Ordem pediu aos Papas que lhe permitissem se dedicar ao apostolado direto, coisa que lhe foi concedida. Segundo Jordão de Saxonia, entre as funções de um Agostiniano estavam: “ensinar e pregar a Palavra de Deus, ouvir confissões e promover a salvação das almas mediante a palavra e bom exemplo”. Outros escritores da Ordem contemporâneos testemunham o posto que esta ocupação tinha na vida dos Agostinianos. Não significava nenhuma novidade; simplesmente seguiam o exemplo de Agostinho, pregador por antonomásia que os Papas tinham colocado repetidamente como exemplo a imitar.

Provas de esta atividade e do sucesso nela as encontramos também fora da Ordem. entre outras, o encargo dado ao Padre Geral por Nicolau IV de selecionar vinte Agostinianos para que percorressem toda Itália pregando a cruzada contra os turcos e em defesa da Terra Santa,. É um testemunho da estimação que ao respeito tinha a Sede Apostólica.

Exemplos dessa atividade foram, entre outros, o Beato Agostinho de Tárano (+1309) e, sobretudo São Nicolau de Tolentino, falecido quatro anos antes que o anterior. Nunca na história faltaram na Ordem bons pregadores. Lembremos deste período o Beato Simão de Cássia, Mariano de Genazzano, e na Espanha o Padroeiro de Salamanca, João de Sahagún. Nem também não faltou quem escrevesse tratados para a formação de futuros pregadores. Assim Tomas de Todi compus o Arte de pregar célebre na sua época com difusão em toda Europa dados os numerosos manuscritos que dele conservamos.

Também temos que ver como serviço à Igreja, e em definitiva, às almas, a presença e participação em vários concílios ecumênicos, começando pelo II de Lyon. Ao de Constança assistiram dezenove Agostinianos, cinco dos quais como delegados de príncipes ou repúblicas. Digno de memória é o suíço João Zacarias, grande artífice da questão hussita até merecer ser chamado “látego de Huss”. Presença agostiniana houve também nos Concílios de Basiléia e V de Letrão.

O numero de prelados da época é igualmente elevado.

 

4.- MISSÕES

No Capítulo Geral celebrado em Colônia em 1374 determinava-se que “as províncias que se encontram em territórios limítrofes com os pagãos dispunham de alguns religiosos bem preparados para pregar a verdade do Evangelho àqueles. É de desejar também que religiosos das restantes províncias, com a autorização do Superior Geral, e do respectivo Provincial, vão a tais territórios e entreguem-se à pregação, devendo fazer isso também para a salvação de suas próprias almas. Deseja-se também que todos os Superiores Provinciais enviem à Província de Terra Santa algum dos seus frades que desejem ir”.

Esta é a primeira legislação oficial em matéria de atividade missionária, mas como no caso dos estudos, não é a primeira vez que os Agostinianos se preocupam com o problema. A atividade missionária dentro da Ordem é mais antiga que essas normas. Começou já no século XIII graças aos religiosos que viviam em regiões limítrofes com povos, ainda sem evangelizar. Vale a pena lembrar a Vito de Hungria que converteu numerosos mongóis entrados na Europa com as invasões daqueles tempos. Igualmente, Nicolau de Bohemia passou muitos anos convertendo pagãos em países Bálticos e ilhas próximas, e obteve do Papa a licença para poder fundar ali uma casa da Ordem. A atividade missionária chegou também às terras da Polônia e Lituânia por obra do cardeal Agostiniano Boaventura de Padova, legado do Papa na corte do rei de Polônia Ladislau, no século XIV. Não cessou de enviar missionários àquela região.

O último religioso de fama no campo missionário foi Tadeu das Ilhas Canárias, célebre missionário naquelas ilhas e posteriormente em Marrocos onde morreu no ano 1470 em odor de santidade sendo venerado até pelos árabes.

20 lições para conhecer a Santo Agostinho

14.- O NASCIMENTO DA ORDEM DOS EREMITAS DE SANTO AGOSTINHO

(As Uniões de 1244 e 1256)

A origem da ORDEM DOS EREMITAS DE SANTO AGOSTINHO é muito obscura. Tudo quanto se sabe está cheio de lendas e narrações pouco fundamentadas. O que se sabe deve-se à história geral da época. Muito pouco é o que sabemos sobre os eremitas e, mais especificamente de suas casas. As investigações históricas, no entanto, avançam lentamente e nos permitem chegar às seguintes conclusões:

1. A formação da Ordem foi lenta e difícil;

2. Não está direta nem indiretamente ligada às fundações de Santo Agostinho;

3. Foi resultado da união de vários grupos eremíticos independentes;

4. Nessa união, a Santa Sé teve uma influência decisiva, especialmente através do cardeal Annibaldi.

 

A Primeira União de 1244

Os séculos XII e XIII acordaram a Igreja com ideias de renovação cristã. Muitos foram os cristãos que sentiram em suas vidas os desejos de seguir mais de perto os exemplos de Jesus e dos primeiros cristãos. Entre eles alguns se retiraram a lugares afastados para levar um estilo de vida eremítico onde a contemplação constituía uma forma fundamental do encontro com Deus. Diversas regiões e Itália, França e Alemanha ficaram cheias de muitos conventos deste tipo.

Nestes grupos, unidos pelo fato de serem eremitas, que seguiam observâncias distintas e até distintas Regras, temos que ver a origem da Ordem de Santo Agostinho. Deles saiu a iniciativa de pedir ao Papa Inocêncio IV, que lhes concedesse viver conforme a Regra de Santo Agostinho, unindo a todos com o fim de fundar uma Ordem.

Diante da perspectiva de com a união criar a força, o Papa viu com bons olhos a proposta e aceitou a petição. Ordenou que todos os eremitas residentes na região italiana de Toscana seguissem a Regra e o estilo de vida de Santo Agostinho no presente e no futuro. Mais ainda, qualquer norma posterior ou as Constituições que pudessem surgir no futuro não podiam estar em contradição com aquele estilo de vida. Assim o estabeleceu o Papa nos documentos titulados Incumbit nobis e Praesentium vobis. Era o ano 1243.

A primeira reunião dos representantes daqueles grupos de eremitas, dois ou três de cada convento, ou seja, o momento da fundação da Ordem propriamente falando, teve lugar em Roma no mês de março de 1244. Presidia o Cardeal Ricardo degli Annibaldi, encarregado pelo Papa de dirigir os primeiros passos da Ordem nascente.

Posteriores documentos do Papa foram definindo com maior precisão a fisionomia e o caráter da Ordem. No mesmo mês da fundação concedeu-se aos sacerdotes poder confessar e pregar ao Povo de Deus, o que quer dizer que se convertia em uma Ordem Apostólica, sem abandonar o elemento contemplativo que lhes tinha levado a buscar a Deus na solidão.

O mesmo Papa foi tirando do caminho os impedimentos que impediam a perfeita convivência entre os membros dos distintos grupos. Como alguns deles tinham professado a Regra de São Bento, o Papa lhes dispensou disso assim como das outras tradições próprias em contraste com o novo modo de viver conforme a Regra recém professada.

Pouco tempo depois obtiveram os privilégios que tinham sido concedidos às outras Ordens. O Papa dava proteção às casas da Ordem; libertou-as de alguns impostos; declarou-as isentas da jurisdição dos bispos em algumas coisas, etc. Estes privilégios, concedidos no início só aos religiosos agostinianos que viviam na Toscana, estenderam-se um ano mais tarde às outras partes da Ordem que começava a difundir-se com força.

A Santa Sé pôs toda a sua força em protegê-los e ajuda-los a ultrapassar as não poucas dificuldades daqueles primeiros momentos. Ainda mais, o mesmo Papa Inocêncio IV ordenou aos bispos que lhes dessem apoio: obrigou-lhes a respeitar os privilégios que tinham sido concedidos pelo Papa. Seu sucessor, Alexandre IV, teve o mesmo proceder.

 

A Grande União de 1256

Em março de 1256, por iniciativa do Papa, teve lugar em Roma o que se tem chamado a Grande União. Com este nome conhecem os historiadores a união de outros vários grupos de eremitas à já existente Ordem de Santo Agostinho. Num primeiro momento, o Papa Alexandre IV, somente queria unir aos eremitas da Ordem de São Guilherme, os únicos da Toscana que tinham sido excluídos da união anterior. Mas foram vários os grupos aos que se estendeu esta união.

No total os grupos que tomaram parte desta união são os seguintes:

EREMITAS DE SÃO JOÃO BOM (1169-1249)

João Bom nasceu em Mântua, Itália, por volta do ano 1169. Quando jovem, viveu desordenadamente, percorrendo campos e cidades como comediante. Ao redor do ano 1210, uma enfermidade o induziu a mudar de vida. Retirou-se ao campo para viver só, possivelmente em 1217. Ai foi reunindo discípulos com os quais começou a partilhar a vida penitente dos eremitas da época. Não tinham regra nem vínculos jurídicos especiais. Esta forma de vida, porém, um tanto livre e anárquica, estava em desacordo com as normas da Igreja que, empenhada na organização e sobrevivência da vida religiosa, ordenava, a todos os fundadores de novas casas religiosas, adotassem uma das regras e constituições já existentes.

João Bom sentiu a necessidade urgente de dar estabilidade a sua fundação. Escolheu então a Regra de Santo Agostinho e impôs o hábito de eremita a seus companheiros. Todos começaram a viver “regularmente”, ou seja, de acordo com uma regra já escolhida. Isto ocorreu por volta do ano de 1225. Seu estilo de vida variou muito pouco: silêncio, jejuns prolongados, roupa pobre, repetição de orações vocais... Andavam descalços e viviam de esmolas. Nada disto nos há de estranhar, pois esse era o modo como viviam os eremitas da época.

Uma nota curiosa: traços agostinianos não apareciam em nenhuma parte. Adotaram a Regra de Santo Agostinho simplesmente porque tinham que adotar uma dentre as já existentes; não, porém, por conhecer e seguir o santo bispo de Hipona. O verdadeiro mestre e fundador continuava sendo João Bom, que tinha fama de líder e santo.

Como quase todos os membros desta comunidade eram leigos, o apostolado ficava em um segundo lugar. Pouco a pouco, porém, foram entrando sacerdotes ou eremitas leigos eram ordenados, com os quais o apostolado adquiriu grande importância. O próprio João Bom, ao ordenar-se sacerdote, foi um grande apóstolo.

A fundação cresceu rapidamente até que João Bom, já velho, analfabeto e enfermo, teve que renunciar à direção da comunidade que, no ano de sua morte (1249), contava com mais de 15 casas no norte da Itália. Em 1249, a comunidade se dividiu em dois grupos devido a diferenças de opiniões e critérios; porém, voltou a se unir em 1252, preparando-se assim para a GRANDE UNIÃO DE 1256.

A Ordem celebra a festa de São João Bom no dia 16 de outubro, junto com a de São Guilherme, o Eremita.

EREMITAS DE BRÉTTINO

Perto dali, na localidade de Bréttino, a uma distância de 60 km, mais ou menos, e na mesma época, nasce outro grupo, com o propósito de lutar contra os vícios da carne e alcançar a vida eterna. Nada se sabe do fundador, nem origem, número, posição social e primeiros passos destes solitários. Em 1227, dispunham já de uma igreja, dedicada a São Brás, com regra e organização sob a proteção de São Pedro. Nem sua regra, nem seus costumes, porém, eram aprovados pela Igreja. Por isso tiveram que acolher a Regra de Santo Agostinho, a quem, como os anteriores pouco conheciam. Em 1235, já possuíam Constituições e organizações próprias, aprovadas pela Santa Sé. Tinham algum ato comum, porém, o centro de sua vida era ocupado pelo ascetismo, manifestado no hábito humilde, na pobreza particular e comum e nos jejuns severos e prolongados.

A pobreza era muito rígida. Viviam do trabalho. Nos momentos de escassez, pediam esmola, como os demais eremitas da época. A este respeito, tiveram problemas com os franciscanos, pois, como vestiam quase o mesmo hábito que estes os fieis os confundiam e lhes davam esmolas achando que eram destinadas aos eremitas de São Francisco. Estes se queixaram à Santa Sé, a qual solucionou o problema, dando-lhes hábitos diferentes para ambos.

Assim como outros movimentos eremíticos da época, também os Bretinenses foram evoluindo para uma forma de vida mais apostólica e comunitária, menos eremítica. Por volta de 1238, já estavam muito expandidos pelo norte da Itália. Em 1243 a Santa Sé os aprovou como comunidade apostólica juridicamente organizada, permitindo a entrada de leigos e sacerdotes na Ordem. Em meio a este florescimento, chegaram à GRANDE UNIÃO DE 1256.

GUILHERMITAS

Devem seu nome a São Guilherme, o Grande, morto em 1157, sobre o qual se teceram muitas lendas. Só se sabe que era um militar francês e que, no início de sua conversão em 1145, se retirou para Pisa, em primeiro lugar, e logo em seguida para Malavalle (Itália), onde levou uma vida penitente e solitária.

No momento de sua morte só contava com dois discípulos, um dos quais, Alberto, se encarregou de cuidar de seu sepulcro, transformado em lugar de peregrinação pela fama das virtudes e milagres detidos pelo santo.

Logo se foram reunindo mais discípulos ao redor dos dois que havia deixado seu fundador, até que a nova ordem começou a estender-se fora da Itália, pela França, Alemanha, Hungria e outros países. O Papa Gregório IX lhes impôs a Regra de São Bento em 1238. De forma diferente dos outros grupos, os guilhermitas não quiseram dedicar-se ao apostolado nas cidades nem a pedir esmola. Apesar de terem a Regra de São Bento, foram incluídos na Grande União, porém só perseveraram nela alguns conventos alemães.

EREMITAS DE MONTE FAVALE

Aparecem em 1225. De todos os grupos é o que tem uma origem mais obscura e uma história muito pobre. Consta que o Papa Honório III lhe permitiu viver sob a Regra de São Guilherme, ou seja, com orientação beneditina. Também foram incluídos na GRANDE UNIÃO de 1256, porém imediatamente saíram dela porque já em 1255 haviam pedido para se tornarem cistercienses.

EREMITAS DA ORDEM DE SANTO AGOSTINHO DE TOSCANA

Quase pela mesma época dos grupos anteriores, aparecem também na Itália, diferentes casas de eremitas. Por estarem isoladas e em lugares desabitados, receberam o nome de “eremos”.

Em cada “eremo” viviam vários eremitas, completamente independentes dos demais. Cada “eremo” se regia por leis próprias e levavam diferentes estilos de vida. Nada se sabe sobre sua origem, fundador, posição social, etc.

Os “eremos” foram aumentando rapidamente em número, até que os próprios eremitas tomaram a iniciativa de se unirem por um vínculo comum. Como já está explicado anteriormente, com este propósito, enviaram 4 delegados a Roma nos finais de 1243 e o Papa Inocêncio IV aceitou seu pedido, dando-lhes a regra de Santo Agostinho. Deste modo, todos começaram a girar ao redor do bispo de Hipona.

Tem-se assim uma primeira união: a de todos os “ermos”, em 1244, com o nome de EREMITAS DA ORDEM DE SANTO AGOSTINHO DE TOSCANA”, terminando assim sua completa independência e unindo-se, não só pela Regra de Santo Agostinho, mas também por outros aspectos: o apostolado, a liturgia, a vida comum, etc.

Parece que a união não foi fácil no princípio, já que alguns “eremos” resistiram em entrar nela. Contudo, em 1250, já haviam entrado na união nada menos que 61 “eremos” toscanos; e em todos eles se tinha consciência de pertencer a um único corpo, com a consequente obrigação de vestirem o mesmo hábito, de obedecer a um mesmo prior e de acomodar sua vida e uma mesma regra e constituições.

Entre estes, havia sacerdotes e leigos. O Papa Inocêncio IV se preocupou muito para que não se saíssem das linhas agostinianas.

A união de 1244 favoreceu enormemente a expansão territorial da Ordem. Em 1245 já havia ultrapassado os limites da Toscana, estendendo-se pela Inglaterra, França, Suíça, Alemanha Bélgica, Espanha e Portugal. Nos fins de 1250, se estabeleceram em Roma.

De todos, este é o grupo mais agostiniano e é considerado o tronco da ORDEM DOS EREMITAS DE SANTO AGOSTINHO.

 

 

O EREMITISMO NA IDADE MÉDIA

Em meados do século XI, o eremitismo ocidental começa um período de esplendor que se prolonga até meados do século XIII. Por todas as partes aparecem almas inquietas, desejosas do absoluto e enamoradas da soberania divina que, em grupos ou solitárias, abandonam a nascente civilização urbana e correm para a solidão. Geralmente, se estabelecem em lugares inóspitos, às margens das selvas, e ali se entregam a uma vida de trabalho, penitência e oração. Outros abraçam o eremitismo para fazer penitência de seus pecados. Outros, em fim, para seguir a corrente da época ou atraídos pelo magnetismo de algum eremita famoso da região.

O eremita não é necessariamente um ser sem convívio social, inimigo do mundo e todo concentrado sobre si mesmo e sobre uma falsa ideia de divindade. Em geral, é uma pessoa de grande inquietude religiosa, com um alto conceito da majestade de Deus e da perfeição cristã, insatisfeita com os modelos religioso-morais que oferece o mundo em redor. Em consequência, foge do mundo e se refugia na solidão para correr nela com absoluta liberdade atrás de seu ideal. Pratica a hospitalidade. De vez em quando abandona o retiro e percorre campos e povoações pregando a penitência e a conversão. Outras vezes se estabelece à beira dos caminhos ou junto a alguma ermida para prestar ajuda a peregrinos e caminhantes. Quase todos reúnem discípulos, aos quais dirigem pela via da perfeição.

20 lições para conhecer a Santo Agostinho

 

13.- O MONACATO AGOSTINIANO

EXPANSÃO, ECLIPSE E RESSURGIMENTO

(Séculos IV - XII)

A obra monástica de Santo Agostinho não ficou limitada a seu tempo e a sua diocese: mas, pelo contrário, ultrapassou todos os limites e foi se abrindo passo a passo através dos séculos e em diferentes lugares. Poucas coisas desejou com tanto ardor como o florescimento da vida comum. Durante toda a sua vida lutou por difundi-la, defendê-la e aperfeiçoá-la. Nem mesmo a morte pode com seu afã proselitista. Sua palavra continua ressoando, com brevíssimas pausas, ao longo dos séculos; e ainda hoje encontra acolhida no coração dos homens.

Além dos mosteiros mencionados na lição anterior, já como sacerdote Agostinho estabeleceu outro em Cartago, no ano 392, sob o amparo do bispo metropolitano Aurélio. O que Valério foi para Agostinho em Hipona, Aurélio o foi também em Cartago.

Cartago era então o centro civil, cultural e religioso de toda a África; e Agostinho necessitava consultar seus arquivos e bibliotecas em busca de documentação para suas polêmicas. Os monges poderiam consultá-los com facilidade, recolher o material necessário e remetê-lo a Hipona. As demais ocupações seriam muito semelhantes às dos monges de Hipona.

A fama dos monges formados por Agostinho fez com que os bispos os aceitassem com agrado em suas dioceses e os utilizassem na pregação, cargo que era próprio dos bispos.

Toda instituição religiosa se propaga, não só por obra de seu fundador, mas também dos amigos e seguidores deste. Assim, Evódio, Severo, Possídio, Profuturo e Fortunato, bispos, fundaram mosteiros clericais em suas sedes episcopais; e alguns deles fundaram também mosteiros de leigos e virgens. Houve inclusive, dois bispos, Novato e Benenato, que, sem serem abertamente discípulos de Agostinho, fundaram mosteiros com o espírito agostiniano, graças às relações que mantinham com o santo. Também Alípio fundou seu mosteiro clerical em Tagaste.

No ano 411 aconteceu algo digno de menção em Tagaste: um casal de nobres esposos, Melania e Piniano, vindos de Roma, decidiram renunciar ao uso do matrimônio e, movidos pelo exemplo dos monges agostinianos, foram se desprendendo pouco a pouco de suas imensas riquezas, repartindo seu fruto com os pobres e ajudando generosamente aos mosteiros e igrejas da região, enquanto eles mesmos se decidiram abraçar a vida comum. Melania viveu em comunidade com suas 130 servas; Piniano, com seus 80 escravos. Por seis ou sete anos moraram em Tagaste, entregues a uma vida de trabalho e penitência. Melania se distinguiu por sua austeridade e atenção prestada à instrução das monjas e pelo trabalho de transcrição de códices. Da vida de Piniano e seus monges não nos restam detalhes. No ano 417 o nobre casal abandonou África e viajou a Jerusalém para se estabelecerem definitivamente no Monte das Oliveiras. Melania foi santa.

Do mosteiro clerical de Hipona saíram dois sacerdotes, Lepório e Bernabé, que fundaram outros dois mosteiros.

Por volta do ano 400 Cartago tinha já vários mosteiros. Em alguns deles começaram a surgir idéias contrárias ao trabalho manual. O bispo Aurélio pediu a Agostinho que interviesse. Motivado por este fato, Agostinho escreveu sua obra “O trabalho dos Monges”.

Consta que em vida de Agostinho existiam já 17 mosteiros. Cada um estava vinculado ao Santo de maneira diferente. Três deles, ou seja, o de leigos de Tagaste e os dois de Hipona eram obra exclusiva sua. Ele lhes deu o ser, a orientação espiritual e a estrutura jurídico-material. Outros mosteiros tiveram relação com Agostinho apenas ocasionalmente, ainda que seguindo seu espírito.

Existem notícias da existência -com Agostinho ainda vivo- de outros nove mosteiros no Norte de África, embora nada conste de suas relações com o bispo de Hipona. Mas provavelmente seriam frequentes e profundas. Não parece exagerado afirmar que nasceram e cresceram à sombra benéfica do Santo. Todos eles eram fundações de amigos e discípulos seus, que não fizeram mais que transplantar para suas sedes a experiência vivida e assimilada em sua companhia. E, ao instalar-se em suas respectivas dioceses, nenhum rompeu os vínculos com Hipona. Agostinho continuou sendo o mestre e orientador do grupo, a quem se recorria em momentos de dificuldades.

Podem-se contar, portanto cerca de 26 mosteiros existentes enquanto vivia Santo Agostinho, fundados com o ideal do Santo. Estes mosteiros não constituíam unidade jurídica. Não havia entre eles nem regras comuns nem vínculos legais. Não havia surgido na Igreja, ainda, a hora das congregações religiosas. Sentiam-se ligados entre si somente pela origem, pelo reconhecimento da comum ascendência de Agostinho e pelos costumes gerais da época. Além do mais, cada mosteiro era uma comunidade autônoma, que se governava por estatutos particulares e pela legislação dos concílios. O abade gozava de grande liberdade na hora de escolher e aplicar as normas concretas. Os mosteiros clericais dependiam do bispo diocesano.

O entusiasmo das fundações agostinianas logo começou a retroceder devido às invasões dos vândalos. Um dos reis mais cruéis, Genserico, que reinou de 429 a 477, enfureceu-se particularmente com os bispos e seus mosteiros. Calcula-se que entre os anos 430 e 484 o episcopado africano perdeu quase cem de seus membros, baixando o número de 675 para 584. Os mosteiros que mais sofreram foram os de clérigos e de virgens.

Em fevereiro de 484 Honerico deu o golpe final deportando a quase totalidade dos bispos e entregando aos mouros os mosteiros de homens e mulheres.

Mas a perseguição não acabou com os mosteiros africanos. Precisamente a perseguição do ano 484 nos revela a existência de dos mosteiros: em Gafsa e em Bigua, os quais a nossa Ordem considera de inspiração e vida fundamentalmente agostinianas. O primeiro, de Gafsa, era uma mosteiro de leigos e clérigos, habitado por sete monges: Liberato, Bonifácio, Severo, Rústico, Rogato, Septimo, e Máximo. Este mosteiro tem especial importância, para nós agostinianos, devido ao martírio de seus membros. Enfrentando as provações, foram mortos em Cartago, dando grande exemplo de fortaleza de fé e de unidade fraterna. Todos eles selaram suas vidas com o martírio e foram sepultados no mosteiro cartaginês de Bigua. Celebramos a festa destes mártires a 26 de agosto.

Entre os mais importantes e antigos santos agostinianos se encontra São Fulgêncio (462-527). Nasceu em Thelepte (hoje Medinet-el-Kedima, Túnis), em 462 da família senatorial Gordiani, de Cartago. Muito jovem ainda começou a exercer o cargo de procurador em sua cidade natal. Este cargo levava consigo a responsabilidade de administrar a coisa pública entre os vândalos e a cobrar os impostos. Atraído pela vida religiosa, decidiu-se definitivamente depois de ler a exposição de Santo Agostinho sobre o salmo 36. Após algum tempo, lá por 499, resolveu unir-se aos solitários do Egito, na Tebaida. Na viagem passando pela Sicília, dissuadiram-no daquele propósito pelo influxo monofisita que existia entre aqueles monges. Antes de voltar à África, visitou Roma no ano 500. Em torno de 502 foi feito bispo de Ruspe. Por duas vezes esteve, com outros bispos, exilado na Sardenha pelo rei Trasamundo. Cultivou intensamente a doutrina agostiniana, como se deduz de suas obras. Sua vida monástica ajusta-se, em linhas gerais, à mentalidade e ai estilo de vida de Santo Agostinho. Foi chamado, portanto, com razão “Agostinho menor”. Amou profundamente a vida de comunidade e a comunhão de vida. Não conseguia viver senão rodeado de monges. Por isso fundou vários mosteiros, tanto em sua pátria, como no exílio. Morreu em Ruspe no dia 1º de janeiro de 527, depois de longa e penosa enfermidade. A Ordem celebra seu culto a 3 de janeiro.

Com a morte de São Fulgêncio, o monge mais ilustre da África depois de Santo Agostinho, as trevas voltam a cobrir a história do monacato agostiniano. Os esforços de arqueólogos e epigrafistas não conseguem aclarar este período obscuro. Escavações e inscrições nos oferecem dados úteis, mas não suprem a quase total carência de documentação literária. Existem notícias passageiras acerca da existência de mosteiros durante o século VI. Sobre o século VII as informações são, no entanto, mais fragmentadas. Nem um só documento escrito chegou até nós sobre o monacato africano de orientação latina e agostiniana. No entanto, sabe-se de existência de uns 12 mosteiros africanos dessa época; e não há dúvida de que havia muitos outros.

Além da África, houve mosteiros de orientação agostiniana também na Itália, Espanha e França. Não foram somente os vândalos que prejudicaram o desenvolvimento do monacato agostiniano. Também os árabes, durante o século VII, lhe deram alguns dolorosos golpes. Mas semelhantes catástrofes não conseguiram tornar opaca a figura de Santo Agostinho. Sua influência segue de pé em algumas das regras monásticas da época, como a de São Bento e outras.

Durante os séculos VII e VIII o monacato em geral não possuía uma estrutura definida. Cada mosteiro era autônomo e se governava por leis próprias; não se podia, portanto, falar de uma ordem religiosa clara e definida.

Pouco a pouco foi-se impondo a reforma monástica. Contribuíram para isto os imperadores, especialmente Carlos Magno, que no ano 787 mandou tirar uma cópia autêntica da regra de São Bento multiplicando-a e dando-a a conhecer a ponto de Santo Agostinho e seu monacato ficaram relegados a um segundo plano.

Mas a vida religiosa não era vivida somente pelos monges. Havia um grupo de clérigos que também a viviam: eram os chamados cônegos, ou conselheiros do bispo. Estes preferiram o ideal de Santo Agostinho e não o de São Bento, pois lhes chamava mais a atenção a vida comum perfeita e a pobreza individual proclamada por Santo Agostinho.

No entanto, nem todos os cônegos compartilhavam o ideal de pobreza. Houve muitas reformas e divisões entre eles mesmos. Uns, os não reformistas, se converteram em clero diocesano; outros, os reformistas, seguiram o ideal agostiniano: foram os CÔNEGOS REGULARES DE SANTO AGOSTINHO. Regular significa aquele que segue uma regra. Estes, depois de muitas experiências optaram por ficar com a regra de Santo Agostinho, a qual suplantou pouco a pouco às demais regras, até por volta de 1120-1130.

A partir do papa Inocêncio II (1130-1142), a Santa Sé fixa a regra de Santo Agostinho a todas as comunidades de cônegos. Com isto recupera Santo Agostinho um posto eminente na história religiosa ocidental; e sua regra recomeça uma brilhante carreira que chega até os dias de hoje. Em fins do século XII e princípios do século XIII a adotam várias congregações novas dedicadas ao serviço dos enfermos, à redenção dos cativos ou à pregação.

Mas a regra de Santo Agostinho não teve a mesma importância em todas as congregações. Em uma delas alcançou, no entanto, um destaque muito grande. A falta de um fundador concreto e de prestígio induz seus membros a acentuar a veneração à pessoa de Santo Agostinho e o estudo de sua doutrina. Aos poucos essa congregação vai identificando Santo Agostinho como fundador e pai e para ele volta os olhos em busca de inspiração e ideais. Assim nasce a ORDEM DOS EREMITAS DE SANTO AGOSTINHO.

 

 

A REGRA DE SANTO AGOSTINHO

Desde o início, as comunidades religiosas se constituíram em torno de uma regra de vida. As regras, algumas vezes são escritas pelo próprio fundador; outras vezes, por algum discípulo do fundador, mas aprovada por este; ou são, ainda, escritas por vários autores, mas sempre aprovadas pelo fundador. Em outras ocasiões, uma congregação toma a regra de outra, como o que ocorreu com a de Santo Agostinho.

Santo Agostinho escreveu sua própria regra, chamada “Regra aos servos de Deus”, possivelmente para os monges do mosteiro de leigos de Hipona. Estas informações não são completamente seguras, mas são as mais prováveis. É o documento monástico mais importante de Santo Agostinho, mas também o mais controvertido. Uns dizem que é adaptação da carta 211 dirigida às monjas de Hipona; outros, que é uma simples acomodação dos sermões 355 e 356 de Santo Agostinho. Depois de muitas investigações, os estudiosos agostinianos descobriram que a referida regra foi escrita diretamente por Santo Agostinho, e para homens. É composta de 8 capítulos e inicia assim: “Antes de tudo, caríssimos irmãos, amemos a Deus; depois, também ao próximo, porque estes são os principais mandamentos que recebemos”.