Dos escritos de Agostinho

DEUS É A VIDA DE TUA ALMA

“Tua alma morre perdendo a sua vida. Tua alma é a vida do teu corpo, e Deus é a vida de tua alma. Do mesmo modo que o corpo morre quando perde a sua alma, que é sua vida, assim a alma morre quando perde a Deus, que é sua vida. Certamente, a alma é imortal, e de tal modo é imortal, que vive mesmo estando morta. Aquilo que disse o Apóstolo da viúva que vivia em deleites pode-se dizer também da alma que tem perdido o seu Deus: que vivendo está morta”.

(Com. Ev. de João, 47, 8)

NO MOSTEIRO

"Suas vestes, calçado e enxoval doméstico eram modestos e adequados: nem demasiado preciosos nem demasiados vis, porque estas coisas costumam ser para os homens motivo de jactância ou de abjeção, ao não procurar por elas os interesses de Jesus Cristo mas os próprios. Mas ele, como já se disse, ia por um caminho intermédio, sem virar para a esquerda nem para a direita.

A mesa era parca e frugal, onde abundavam as verduras e os legumes, e algumas vezes carne, por delicadeza para com os hóspedes e as pessoas fracas. Não faltava o vinho, porque sabia e ensinava como o apóstolo que porque tudo o que Deus criou é bom, e não é para desprezar, contanto que se tome em ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração ( I Tm, 4. 4‑5).

De prata só usava as colheres; todo o resto da baixela era de barro, madeira ou mármore; e isto não por uma indigência forçada, mas sim por pobreza voluntária.

Também se mostrava sempre muito hospitaleiro.

E, à mesa atraia‑o mais a leitura e a conversa que a vontade de comer e beber. Contra a peste da murmuração tinha este aviso escrito em verso:

O que é amigo de roer vidas alheias

Não é digno de se sentar e comer a esta mesa.

E convidava os presentes a não salpicar a conversa com contos e maledicências. Certa ocasião, em que uns bispos, muito de sua casa, davam rédea solta às suas línguas, indo contra o prescrito, admoestou‑os muito severamente, dizendo com pena que, ou tinha de se apagar aqueles versos ou ele se levantaria da mesa e se retiraria para o seu quarto. Desta cena fui eu testemunha e outros comensais.

Nunca esquecia os companheiros na sua pobreza, socorrendo‑os do que se provia ele e os seus comensais, isto é, ou dos rendimentos e bens da Igreja, ou das ofertas dos fiéis. E, como por causa dos bens, o clero era alvo da inveja, como costuma acontecer, o Santo pregando aos seus fiéis, costumava dizer‑lhes que preferia viver das esmolas do povo a ter a administração e o cuidado das propriedades eclesiásticas e que estava disposto a cedê‑las para que todos os servos de Deus vivessem do serviço do altar. Mas os fiéis nunca aceitaram tal proposta." (Vida, 22‑23).

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